A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE NO PROGNÓSTICO DE CIRURGIAS CARDIOVASCULARES


As patologias cardiovasculares, principalmente as que requerem abordagem cirúrgica, envolvem uma ampla e complexa conjuntura, que permeia entre aspectos técnicos, sociais e psíquicos. Nesta equação, a capacidade de aceitação e, consequentemente, adaptação à doença tem sido vista como decisiva para um prognóstico favorável, tornando assim relevante para o cirurgião cardiovascular o entendimento dos fatores que influenciam esses comportamentos em pacientes cardiopatas.

Nesse contexto, o coping religioso-espiritual, definido como o uso da religião, espiritualidade e fé como meio para entender e enfrentar situações adversas, tem sido indicado como um potente influenciador na forma com que pacientes lidam com suas doenças.

Estudo norte-americano (Oxman et al., 1995), um dos pioneiros a abordar o tema, avaliou a influência do coping religioso na taxa de mortalidade após 6 meses de cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) em 232 pacientes, mostrando uma taxa de mortalidade 3 vezes menor no grupo praticante de coping religioso. Em relação a complicações pós-operatórias, Al Ai et al. (2009) avaliaram 177 pacientes submetidos à CRM, concluindo que aqueles que oravam frequentemente no pré-operatório foram 45% menos susceptíveis a complicações após a cirurgia.

Além da influência na dimensão física, Ai et al. (2013) avaliaram a mudança positiva de comportamento 30 meses após a cirurgia cardíaca (reconhecida como crescimento pós-traumático), tendo encontrado o coping religioso como preditor deste novo comportamento.

Em contrapartida, há pacientes que, por incertezas religiosas, como, por exemplo, idealização da doença como meio de punição do ser divino, tendem a não desenvolver aspectos positivos do coping religioso. Daí a importância de considerar as particularidades de cada paciente, assim como ponderar a relevância de outros fatores, como suporte social adequado, no enfrentamento otimista da condição.

Ainda estamos dando os primeiros passos no entendimento multidimensional do paciente cardiopata e certamente essa caminhada passa pela compreensão de que o sucesso cirúrgico envolve não apenas uma anatomia cardíaca favorável aliada a uma técnica cirúrgica adequada, mas também a dimensão psíquica do paciente, incluindo seus anseios, crenças e emoções.

Bibliografia

Ai, A. et al. Prayer and reverence in naturalistic, aesthetic, and socio-moral contexts predicted fewer complications following coronary artery bypass. Journal of Behavioral Medicine, v. 32, n. 6, p. 570-581, 2009.

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Fetzer Institute, National Institute on Aging Working Group. Multidimensional measurement of religiousness, spirituality for use in health research: a report of a national working group. Fetzer Institute, Kalamazoo, MI, 2003 (1999).

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Religious Beliefs May Affect Psychological Recovery After Cardiac Surgery. Disponível em: <http://www.medscape.com/viewarticle/542620&gt;. Acesso em: 23 maio. 2017.

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