“Publiquei um artigo. Ninguém leu. Ele existe?”- A importância do fator de impacto

Um antigo experimento filosófico, inicialmente proposto por George Berkeley em 1710, com o intuito de analisar a capacidade de observação e o conhecimento da realidade levanta a seguinte questão: “Se uma árvore cair no meio da floresta e não estiver ninguém por perto para ouvir, ela faz barulho?” Extrapolando esse questionamento para a realidade da produção científica nos traz a arguição do título e a angústia que muitos pesquisadores sentem ao perceberem após anos de estudo que seus achados não estão sendo repercutidos. É bem verdade que existem pesquisadores que não compartilham desse sentimento: ou por sempre serem capazes de publicar em revistas de ampla disseminação ou em outros casos possuírem apenas o desejo do registro dos seus estudos. Contudo, em um mundo em que a quantidade de informação produzida cada vez mais transborda a capacidade de assimilação, ser capaz de definir o melhor veículo para a repercussão de seus estudos tornou-se essencial.

“Se uma árvore cai na floresta…”

Uma das ferramentas relevantes para alicerçar essa tomada de decisão é o Journal Impact Factor – JIF, conhecido também como Fator de Impacto, ou simplesmente FI. Creditado a Eugene Garfield, deriva do Science Citation Index elaborado em 1961 e é caracterizado como um instrumento de seleção e avaliação dos periódicos científicos. Ele é hoje divulgado no Journal Citation Report – JCR, um produto da Thomson Reuters (antes conhecido por The Institute for Scientific Information – ISI).

Eugene Garfield, empresário e linguista americano. Um dos pioneiros da Bibliometria e da Cienciometria. Reconhecido como criador do Fator de Impacto.

O Fator de Impacto é freqüentemente usado como um proxy para a importância relativa de uma revista dentro de seu campo. Revistas com fatores de impacto mais elevados são freqüentemente consideradas mais importantes e capazes de melhor repercutir os estudos dentro da sua área do que aquelas com menores.

Calcula-se o fator de impacto como através da divisão do número de citações dos artigos de uma revista em todas as revistas inseridas na base de dados do Institute for Scientific Informations, dividido pelo o que foi publicado por esta revista nos dois anos anteriores.

FI (ano) = Citações (ano-1) + Citações (ano-2) / Publicações (ano-1) + Publicações (ano-2)

Desta forma o Fator de Impacto pode ser uma boa maneira de avaliar para qual revista o autor deve submeter seu artigo, entretanto, algumas ressalvas são feitas, como por exemplo a realizada em 2007 pela Associação Europeia de Editores de Ciências (EASE): Uma vez que “o fator de impacto nem sempre é um instrumento fiável”(..) “os fatores de impacto de uma revista devem ser utilizados com cautela apenas para medir e comparar a influência de revistas, mas não para a avaliação de artigos únicos, e certamente, não para a avaliação de pesquisadores ou programas de pesquisa”.

Existem outros índices com intuitos semelhantes que podem ser usados são: Cited Half-life, Fator de Impacto Agregado, Immediacy Index, CiteScore e SJR Altimetrics. Cada um com suas nuances diferentes, como o CiteScore produzido pela Elsevier usando dados do Scopus ou o SJR Altimetrics que leva em consideração inclusive o impacto do artigo nas redes sociais.

Contudo, mesmo que métricas distintas encontrem-se disponíveis, a comunidade acadêmica é altamente influenciada pelo fator de impacto das revistas, pois este é um dos indicadores levados em consideração durante a avaliação da produtividade científica, particularmente pelo CNPq e pela Capes, as principais agências brasileiras de fomento à pesquisa.

Outro ponto a ser salientado é que não basta publicar em uma revista de alto impacto para garantir uma boa repercussão se esta não tiver penetração entre pesquisadores com linhas de estudo semelhantes. Além, é claro, das qualidades intrínsecas do artigo em questão que sempre será o maior determinante para sua repercussão.

Para evitar essa indagações filosóficas sobre a existência da sua produção científica, garanta que muitas testemunhas estejam presentes quando a sua árvore tombe. Ou melhor, lute por uma publicação que faça as pessoas certas lerem sua produção científica. Assim, ela não cairá em silêncio.


Referências:

  1. RUIZ, Milton A.; GRECO, Oswaldo T.; BRAILE, Domingo M.. Fator de impacto: importância e influência no meio editorial, acadêmico e científico. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., São Paulo , v. 31, n. 5, p. 355-360, 2009 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842009000500014&lng=en&nrm=iso>. access on 15 Feb. 2017. Epub Oct 16, 2009. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-84842009005000080.
  2. “European Association of Science Editors (EASE) Statement on Inappropriate Use of Impact Factors”. 2012-07-23. Available from <http://www.ease.org.uk/wp-content/uploads/ease_statement_ifs_final.pdf >
  3.  SCI® Journal Citation Reports®: a bibliometric analysis of science journals in the ISI® database. Philadelphia: Institute for Scientific Information, Inc.®, 1993.
  4. Garfield E. The History and Meaning of the Journal Impact Factor. JAMA.2006; 295(1):90-93. doi:10.1001/jama.295.1.90.
  5. Fausto, S. JCR 2015 tem novidades: mais revistas brasileiras indexadas. SIBI USP. Available from: <http://www.sibi.usp.br/noticias/jcr-2015-novidades-revistas-brasileiras-indexadas/ >
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