Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia em relação à Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Isso veio a ser uma verdadeira catástrofe mundial, trazendo inúmeros impactos ao sistema de saúde, desde o nível assistencial até o educacional[1].
Com isso, foram impostas medidas de distanciamento social e adaptação dos serviços hospitalares para atender à demanda avassaladora de pacientes infectados. Encontros presenciais foram cancelados e cirurgias eletivas foram suspensas, consequentemente afetando o volume e a complexidade de cirurgias. Os programas de Cirurgia Cardiovascular (CCV) foram obrigados a readequar seu modelo de ensino e aprendizagem. Esse cenário afetou o treinamento oferecido aos residentes, que também passou por mudanças a fim de superar os desafios impostos pela pandemia.
Por outro lado, o avanço tecnológico experimentado nessa época foi exponencial, com o desenvolvimento e aprimoramento de recursos como: telemedicina; simulações cirúrgicas; palestras online em plataformas como Google Meet, Microsoft Teams e Zoom; desenvolvimento de projetos de pesquisa; aprimoramento de metodologias ativas, como a aprendizagem baseada em problemas (método PBL); consolidação da inteligência artificial (IA), entre outros[1,2].
A aplicação de ferramentas de realidade virtual representou uma maneira de compensação ao decréscimo de práticas em anfiteatros e blocos cirúrgicos, auxiliando, por exemplo, no estudo da anatomia através de modelos 3D acessíveis por dispositivos móveis, como ilustrado na Figura 1[3].

O emprego desses avanços tecnológicos na aprendizagem de técnicas cirúrgicas tem sido validado em estudos. Uma revisão sistemática, voltada à análise do uso de simuladores de realidade virtual imersiva para aprendizagem de técnicas cirúrgicas por estudantes de medicina e médicos de diferentes níveis de formação, identificou que indivíduos treinados pela plataforma obtiveram menores tempos cirúrgicos e maior precisão técnica em comparação ao grupo que não utilizou a ferramenta[4]. Mesmo após o fim do período pandêmico, a maioria desses avanços foi integrada ao ensino tradicional e trouxe novas possibilidades no aprendizado da cirurgia cardiovascular, pautando-se sempre em três pilares: teoria, treinamento e prática, como ilustrado na Figura 2[2].

As mudanças ocorridas perpetuaram-se e modificaram sobremaneira a forma de ensinar e aprender CCV. Nada substituirá a prática cirúrgica real no amadurecimento do cirurgião, porém essas ferramentas têm demonstrado ser adjuntos valiosos para preparar melhor os futuros cirurgiões.
Referências
1.Shah SMI, Bin Zafar MD, Yasmin F, Ghazi EM, Jatoi HN, Jawed A, et al. Exploring the impact of the COVID‐19 pandemic on cardiac surgical services: a scoping review. J Card Surg. 2021;36(9):3354-63.2.Llalle WSC, Bellido-Yarlequé D, Yépez-Calderón C, Chávarry-Infante P. Impact on the thoracic and cardiovascular surgery residents’ learning curve during the COVID-19 pandemic. Braz J Cardiovasc Surg. 2020;35:856-8.
3.Pears M, Yiasemidou M, Ismail MA, Veneziano D, Biyani CS. Role of immersive technologies in healthcare education during the COVID-19 epidemic. Scott Med J. 2020;65(4):112-9.
4.Mao RQ, Lan L, Kay J, Lohre R, Ayeni OR, Goel DP, Sa D, et al. Immersive virtual reality for surgical training: a systematic review. J Surg Res. 2021;268:40-58. 4