O implante valvar transcateter tem revolucionado o tratamento de pacientes com estenose aórtica severa e que possuem elevado risco para a abordagem cirúrgica. Atualmente tem-se buscado expandir as indicações para o uso dessas próteses em pacientes de médio e baixo risco com perspectivas de que elas serão tratamento de primeira linha para a estenose ótica severa em um futuro próximo.
Embora tenha mostrado resultados promissores, o implante transcateter tem sido associado a algumas intercorrências como sangramentos, bloqueios atrioventriculares, endocardite e acidente vascular cerebral. Outro problema consiste na trombose valvar que, embora pouco comum, tem se mostrado desafiador tanto em relação ao diagnóstico como em relação ao correto manejo clínico.
Normalmente, pacientes que, após o procedimento, apresentam sintomas de insuficiência cardíaca podem estar evoluindo com falha da prótese por trombose de folhetos valvares. Neste caso, achados como limitação da abertura e fechamento valvar ou elevação da velocidade de fluxo através da prótese no ecocardiograma ou na Tomografia Computadorizada (TC) de alta resolução podem ser úteis no diagnóstico e na decisão do manejo mais adequado.
Figura 1: trombose de folheto valvar observada em TC (NAKATANI, S et al., 2017)
Recentemente, com o uso de ferramentas de imagem mais potentes, como 3D-TC, tem sido observado uma nova entidade: a trombose subclínica do implante valvar, que é encontrada após 1-3 meses do procedimento e tem incidência aproximada de 10% à 15%, sendo, portanto, uma relevante intercorrência do implante valvar transcateter.
Nosso conhecimento sobre essa complicação ainda é superficial, mas acredita-se que sua origem está na presença de fatores pró-trombóticos que existem na população que faz uso dessas próteses (normalmente pacientes idosos, com comorbidades) e características inerentes às próteses biológicas, como sua localização e sobreposição aos folhetos nativos, que podem causar estagnação de fluxo.
A detecção da trombose subclínica se faz desafiadora, pois, além de requerer rastreio, nem sempre apresenta alterações observáveis em métodos mais simples, como ecocardiograma. Quanto à profilaxia/tratamento, o uso de aspirina isolada (3 meses após o procedimento), dupla anticoagulação (por até 6 meses) ou antagonistas da vitamina K tem divido opiniões.
Em suma, o implante valvar transcateter é uma terapêutica promissora, todavia ainda estamos dando os primeiros passos no entendimento das implicações do uso dessa técnica, a exemplo da trombose subclínica da prótese valvar. Ter domínio não só da técnica, mas do manejo de potenciais complicações deve ser nossa meta, para que possamos fazer uso dessa tecnologia com segurança.
Referências Bibliográficas
1. NAKATANI, S. Subclinical leaflet thrombosis after transcatheter aortic valve implantation. Heart, p. heartjnl-2017-311818, 2017.
2. NISHIMURA, R. et al. 2017 AHA/ACC Focused Update of the 2014 AHA/ACC Guideline for the Management of Patients With Valvular Heart Disease: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Circulation, v. 135, n. 25, p. e1159-e1195, 2017.
3. ONDERGAARD, L. Subclinical Leaflet Thrombosis in Bioprosthetic Aortic Valves. JACC: Cardiovascular Interventions, v. 10, n. 2, p. 204-205, 2017.
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