Uma história que faz a diferença, outras 371 que são a diferença

O Facebook é atualmente um lugar público de divulgação de pensamentos, memórias, propagandas e, frequentemente, histórias que nos fazem pensar. Hoje não é nem perto do Dia dos Pais (segundo domingo de agosto no Brasil; terceiro domingo de junho nos Estados Unidos), mas em junho deste ano estava sendo vigorosamente compartilhada uma história que ocorreu nos EUA sobre Bill Conner, sua filha Abbey e um completo estranho a eles, chamado Loumonth Jack Jr.

Em janeiro, Abbey, de 20 anos, e seu irmão Austin, foram encontrados inconscientes em uma piscina durante as férias deles no México. Austin sobreviveu e se recuperou, mas Abbey sofreu danos cerebrais irreversíveis e faleceu no dia 12 do mesmo mês. Ela foi levada para o hospital Broward Health Medical Center na Flórida/EUA, onde foi mantida sob suporte de aparelhos até a coleta de seus órgãos. Ela era doadora de órgãos e tinha decidido isso aos 16 anos, quando tirou sua carteira de motorista.

A alguns estados de distância, um jovem de 21 anos, Loumonth Jack Jr., sofreu dois ataques cardíacos e, depois de exames, os médicos lhe disseram que seu coração estava seriamente danificado em decorrência de uma infecção viral e que ele precisaria de um transplante cardíaco.

E é aí que as histórias se cruzam: Jack recebeu o coração de Abbey, e outras três pessoas receberam outros três órgãos. O pai de Abbey tentou entrar em contato com essas pessoas, mas apenas Jack respondeu aceitando encontrá-lo. Bill Conner então decidiu sair de sua cidade no estado de Wisconsin, e percorrer de bicicleta mais de 4 mil km até o hospital onde foram coletados os órgãos de sua filha, espalhando sua história e incentivando as pessoas a doarem seus órgãos. No caminho, fez uma parada para conhecer Jack.

O momento do encontro foi emocionante. Quando Bill chegou de bicicleta, imediatamente deu um abraço em Jack que durou um longo e feliz minuto. Com a ajuda de um estetoscópio, Bill pôde auscultar o coração da filha batendo, cinco meses depois de sua morte. Até gravaram as batidas do coração, para que ele as escutasse enquanto fazia seu caminho até a Flórida. O encontro ocorreu exatamente no Dia dos Pais nos EUA, o que tornou o evento ainda mais marcante. (O vídeo do encontro pode ser encontrado no fim do texto)

“Trata-se de não ser egoísta e enterrar coisas que poderiam ajudar pessoas a viver vidas melhores. Se você quer um legado – que melhor legado você poderia ter do que ajudar outras pessoas a viver?”, disse Bill Conner.

 

Bill Conner (esquerda) tem seu choro confortado por Loumonth Jack Jr. (direita) enquanto ausculta o coração de sua filha. Fonte: http://www.theadvocate.com/baton_rouge/news/article_873b73d8-52d3-11e7-aef5-ab96b9e8cd99.html

O Brasil tem hoje o maior sistema público de transplantes do mundo, no qual cerca de 87% dos transplantes de órgãos são feitos com recursos públicos. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece assistência integral ao paciente transplantado. O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) foi criado em 1997, como entidade responsável pelo controle e monitoramento do processo de doação de órgãos e tecidos e transplantes realizados no país, com o objetivo de desenvolver o processo de captação e distribuição de tecidos, órgãos e partes retiradas do corpo humano para fins terapêuticos.

Em janeiro de 2001, o Ministério da Saúde celebrou um Termo de Acordo de Cooperação Técnica entre Comando da Aeronáutica, Infraero, empresas aéreas e as concessionárias dos principais aeroportos. Esta parceria é de extrema importância para o SNT, uma vez que permite o transporte gratuito dos órgãos e tecidos entre os estados, bem como das equipes médicas de retirada, funcionando 24 horas por dia, 7 dias por semana.

A história de Bill Conner, sua filha e Jack pode não ter ocorrido no Brasil, mas muitos brasileiros ficaram sabendo da história, principalmente via Facebook. Aqui temos nossas próprias histórias: em 2007 foram 167 transplantes cardíacos, em 2008, 201, e esse número só foi aumentando, até que em 2016 chegamos a 357, e a previsão para 2017 é somarmos 371 histórias emocionantes, que podem até não ser tão veiculadas nas redes sociais, mas que fazem a diferença nas famílias que recebem tão nobre órgão.

Fonte: http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2017/rbttrim3-leitura.pdf

O acumulado do terceiro trimestre é 278. A queda em 2010 reflete a implantação do atual sistema e da regra de remoção do SNT.

Bibliografia

 

Brasil. Sistema Único de Saúde (SUS). Sobre de Sistema Nacional de Transplantes. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sas/transplantes/sistema-nacional-de-transplantes. Acesso em: 22 nov. 2017.

The Advocate. Disponível em: http://www.theadvocate.com/baton_rouge/news/article_873b73d8-52d3-11e7-aef5-ab96b9e8cd99.html. Acesso em: 22 nov. 2017.

Associação Brasileira de Transplante DE Órgãos (ABTO). Registro Brasileiro de Transplantes. Dados numéricos da doação de órgãos e transplantes realizados por estado e instituição no período: janeiro/setembro 2017. Disponível em: http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2017/rbttrim3-leitura.pdf . Acesso em: 22 nov. 2017.

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