A maioria das cirurgias cardiovasculares tem a capacidade de mudar a história natural da doença em evolução, revertendo ou melhorando os defeitos que estão colocando em risco a vida do paciente, melhorando sintomas, sua qualidade e tempo de vida (1,2).
A realização de um tratamento médico complexo, que inclui a cirurgia cardiovascular, só é possível com suporte organizacional adequado. A operação cardíaca é essencialmente mecanicista, realizada pela maioria dos cirurgiões com rotina precisa e elaborada e, mesmo a formação do cirurgião cardiovascular brasileiro estando entre as melhores do mundo, boa parte das equipes cirúrgicas não oferece aos pacientes o suporte psicológico adequado no pré e pós-operatório, seja por deficiência desse tópico durante a formação, seja por sobrecarga de trabalho nos hospitais do país (1).
Ainda que a intervenção da equipe de saúde seja realizada com sucesso e haja alívio dos sintomas, os pacientes podem apresentar-se inseguros com relação às suas limitações e temerosos de que reapareçam os sintomas; além disso, para algumas pessoas, o prolongamento da vida não é a condição mais importante, e sim a qualidade que terão na continuação de sua vida (3,4).
A cirurgia cardíaca é um procedimento considerado de alto risco e relacionado a sérias complicações pós-operatórias. Por este motivo, faz-se necessária a intervenção de uma equipe multidisciplinar, visando aumentar a sobrevida e a qualidade de vida destes pacientes. Assim, cabe aos profissionais de saúde realizar um tratamento individualizado e multidisciplinar com o paciente, focando não apenas na doença do individuo, mas também em sua qualidade e estilo de vida (2).
Na maioria das vezes, em um momento de regressão, sofrimento e fragilidade, o profissional de saúde pode ser visto pelo paciente como uma figura simbólica de pai/mãe protetor (a), lidando e cuidando de suas necessidades básicas. Diante destas situações, cabe ao profissional assistir e acolher o paciente, visando promover sua independência, tanto física como emocional, não deixando que as atividades técnicas predominem sobre a necessidade do cuidado, de segurança e proteção. Para o paciente, o período denominado pré-operatório é de vital importância em nível/dimensões bio-psico-socioespirituais, pois desencadeia a ansiedade, os temores e o medo do desconhecido em geral (5).
É necessário estabelecer laços de comunicação aberta e interacional entre a equipe de saúde e o paciente submetido ao ato operatório, e a comunicação é uma das estratégias comprovadamente eficazes na redução de complicações pós-operatórias. Algumas estratégias relevantes podem ser utilizadas pelos profissionais de saúde durante a fase perioperatória do paciente. São elas: instrução sobre o procedimento cirúrgico como um todo, informação sobre as medicações que serão utilizadas e a forma de administração, esclarecimento da nutrição prévia e posterior ao ato cirúrgico, realização de cuidados com a integridade da pele em razão da fragilidade, gestão do controle da dor por meio de recursos farmacológicos e não farmacológicos, orientação quanto à promoção do conforto e manutenção do sono saudável (5).
A comunicação é um instrumento básico do núcleo do cuidar em cirurgia cardíaca, mas acontece de maneira diversificada no cotidiano, incorporando significados próprios de acordo com o momento vivido. Desta forma, o cuidar é um desafio importante e, se toda a equipe multidisciplinar trabalhar de forma interdisciplinar, a experiência pode ser extremamente gratificante e satisfatória para os profissionais e, principalmente, para o paciente (5).
Referências
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Gomes JW, Mendonça JT, Braile DM. Resultados em cirurgia cardiovascular oportunidade para rediscutir o atendimento médico e cardiológico no sistema público de saúde do país. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2007;22(4):III-VI.
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Pimentel JF, Ferreira CSB, Ruschel PP, Teixeira RCP. Qualidade de vida em pacientes pós-operatórios de cirurgia cardíaca. Rev SBPH. 2013;16(2).
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Helito RAB, Branco JNR, D’Innocenzo M, Machado RC, Buffolo E. Qualidade de vida dos candidatos a transplante de coração. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2009;24(1): 50-7
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Gonçalves FDP, Marinho PEM, Maciel MA, Galindo Filho VC, Dornelas de Andrade A. Avaliação da qualidade de vida pós-cirurgia cardíaca na fase I da reabilitação através do questionário MOS SF-36. Rev Bras Fisioter 2006;10(1):121-6.
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Sá SPC, Carmo TG, Cortez EA, Avanci BS. O enfermeiro no perioperatório de cirurgia cardíaca do idoso: revisão sistemática de literatura. Rev Pesq Cuid Fundam Online. 2009. set/dez;1(2):394-405.