A perspectiva de crescimento da demanda por cirurgiões cardiovasculares

Nos Estados Unidos (EUA), existe uma preocupação quanto a disponibilidade de cirurgiões cardiovasculares, sendo que em 2009, Grover et al. (2) constataram que mais da metade dos cirurgiões cardiotorácicos tinha pelo menos 55 anos e aproximando-se da aposentadoria.

Preocupadas com a queda do número de residentes de cirurgia cardiotorácica e o impacto no atendimento de uma crescente população de pacientes com doença cardiovascular, a American Association for Thoracic Surgery (AATS) e a Society of Thoracic Surgeons, encomendaram um estudo (3) abrangente sobre a disponibilidade de cirurgiões cardiotorácicos e a demanda por seus serviços até 2025. Os pesquisadores testaram a hipótese de que, apesar da demanda decrescente por procedimentos cardíacos em adultos, o aumento da população idosa em risco de doença cardiovascular levaria à escassez de cirurgiões cardiotorácicos.

Nos EUA de 2005, existiam < 2 cirurgiões cardiotorácicos ativos para cada 100.000 pessoas, e a maioria estava concentrada em áreas urbanas. Em comparação com outras especialidades médicas, os cirurgiões cardiotorácicos eram mais velhos e mais propensos a serem homens; > 50% dos cirurgiões ativos tinham mais de 55 anos de idade (comparado com 33% de todos os médicos) e somente 3% eram mulheres (comparado com 27%). Estava projetado que até 2030, haveria um crescimento de quase 100% no número de norte-americanos com mais de 65 anos de idade (Figura 1).

Figura 1. Crescimento da população com mais de 65 anos (EUA) em relação ao crescimento do número de cirurgiões cardiotorácicos. A linha vermelha corresponde ao número total caso não haja nenhum cirurgião novo; a linha azul, caso haja a formação de 150/ano; a linha verde, caso haja a formação de 75/ano.
Fonte: Grover et al. (2)

 

Nguyen (4), publicou em 2017 em nome da AATS, dizendo que os cirurgiões precisariam atrair mais residentes para o programa e serem proativos sobre o recrutamento de estudantes de medicina talentosos. Isso requeria muito tempo, energia e dedicação à orientação. Além disso, deveriam se concentrar em formar residentes mais qualificados. A evidência disponível indica uma diminuição em candidatos para a especialidade de cirurgia cardiotorácica, e menos residentes são bem-sucedidos na conclusão do programa (5). Uma limitação dos estudos norte-americanos é que eles fornecerem dados sobre cirurgia cardiotorácica, não apenas de cirurgia cardiovascular, uma vez que no Brasil são duas especialidades separadas. Mesmo assim, é possível extrapolar algumas conclusões dos dados que se assemelham entre os dois países.

Neste ano de 2018 começou o novo programa de residência médica em cirurgia cardiovascular (saiba mais clicando aqui) com 5 anos e acesso direto, que tem como um dos objetivos exatamente o de suprir a demanda da especialidade, que, como já descrito, está com uma procura e formação deficitária em relação ao número crescente de pessoas com doenças cardiovasculares.

 

Referências

1.Ministério da Saúde. DATASUS.  [acessado em 16/04/2018]. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205&id=1140005&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/pobt10.

2. Grover A, Gorman K, Dall TM, Jonas R, Lytle B, Shemin R, et al. Shortage of cardiothoracic surgeons is likely by 2020. Circulation. 2009;120(6):488-94.

3. Jacobs ML, Mavroudis C, Jacobs JP, Tchervenkov CI, Pelletier GJ. Report of the 2005 STS Congenital Heart Surgery Practice and Manpower Survey. Ann Thorac Surg. 2006;82(3):1152-8, 9e1-5; discussion 8-9.

4. Nguyen TC. Gazing into the crystal ball: Preventing the inevitable shortage of cardiothoracic surgeons. J Thorac Cardiovasc Surg. 2018;155(2):830-1.

5. Moffatt-Bruce SD, Ross P, Williams TE, Jr. American Board of Thoracic Surgery examination: fewer graduates, more failures. J Thorac Cardiovasc Surg. 2014;147(5):1464-69.

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