A boca é o caminho mais curto ao coração. E para a infecção dele também.

A endocardite bacteriana aguda é uma doença com alto risco de morbidade e mortalidade, embora desde a década de 1960 tenha sido consolidada uma perspectiva de cura a partir do avanço no tratamento clínico e cirúrgico, reduzindo-se a associação de fatalidade ao seu diagnóstico.

  As interações entre o hospedeiro humano e os microrganismos selecionados que culminam em endocardite infecciosa envolvem o endotélio vascular, os mecanismos hemostáticos, o sistema imune do hospedeiro, as anormalidades anatômicas grosseiras no coração, as propriedades de superfície dos microrganismos, a produção de enzima e de toxina por microrganismos e os eventos periféricos que iniciam bacteremia. Essas interações complexas resultam em uma sequência patogênica, na qual os microrganismos caem na corrente sanguínea, rapidamente aderem às superfícies valvares, tornam-se persistentes no local de aderência, proliferam até causar dano local e crescimento da vegetação, e, por fim, disseminam-se por via hematogênica com ou sem êmbolos.

 Tendo em vista a informação de que parte dos casos de endocardite infecciosa tem como causa procedimentos dentários, o cirurgião-dentista deve ter cuidado durante a execução de procedimentos que possam causar sangramentos, pois estes comumente são a porta de entrada para bactérias causadoras de endocardite infecciosa. Por não ser tão comum, as diretrizes sugerem antibióticos antes de procedimentos odontológicos apenas para pacientes que apresentam maior risco de complicações graves de endocardite; dessa forma, a consulta odontológica deve ser tão completa a ponto de identificar os pacientes que necessitam de antibioticoterapia profilática para, assim, evitar danos futuros.

 O diagnóstico da apresentação aguda da endocardite infecciosa é inicialmente suspeitado pelas manifestações clínicas, cujos sintomas apresentam-se agudamente e progridem rapidamente durante vários dias.

 Para tratar a endocardite infecciosa de modo eficaz, devem ser alcançados dois objetivos principais. Primeiro, o microrganismo infectante na vegetação deve ser erradicado e então, as complicações intracardíacas destrutivas e extracardíacas focais da infecção também devem ser solucionadas a fim de minimizar a morbidade e a mortalidade. É justamente na tentativa de suprimir essas complicações que a capacidade terapêutica antimicrobiana é frequentemente excedida, de modo que se torna necessário um procedimento operatório para a resolução do caso; assim, a cirurgia cardíaca tem papel importante no tratamento de infecções que não respondem aos antibióticos, bem como nas complicações intracardíacas da endocardite.

  Quanto à prevenção da endocardite bacteriana aguda, medidas como a correção cirúrgica total de algumas lesões congênitas e a manutenção de uma boa higiene oral, diminuindo a frequência da bacteremia que acompanha as atividades diárias, estão documentadas na literatura como ações eficazes na busca pela redução da incidência dessa doença.

Referências

  1. Valentim YK, Zito MI, Dutra FO, Andreucci MR, Neto Filho, MA. Intervenção cirúrgica como possibilidade de tratamento da endocardite infecciosa. Braz Journal of Surg and Clin Res. 2012-2013; 1(1):27-30.

  2. Bonow RO, Mann DL, Zipes DP, Libby P, eds. Braunwald’s heart disease: a textbook of cardiovascular medicine, 9th Philadelphia:  Saunders Elsevier; 2011.

  3. Goldman L,  Ausiello DC. Tratado de medicina Interna. 22. ed. Rio dde Janeiro: Elsevier; , 2005.

  4. Mariano BC, Reis FB, Rabelo W, Marino RL. Análise dos casos de endocardite infecciosa em um hospital terciário. Rev Med Minas Gerais. 2014; 24(2): 160-6.

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