Blalock-(Thomas)-Taussig e a cirurgia congênita

A tetralogia de Fallot, que é uma das cardiopatias congênitas mais comuns, compreende obstrução da via de saída do ventrículo direito, comunicação interventricular, dextroposição da aorta e hipertrofia do ventrículo direito. A taxa de mortalidade em pacientes não tratados chega a 50% aos 6 anos, mas, na atual era da cirurgia cardíaca, crianças com formas mais simples dessa condição gozam de boa sobrevida em longo prazo, com excelente qualidade de vida.

Os shunts sistêmicos para artéria pulmonar são realizados como procedimentos paliativos para uma variedade de cardiopatias congênitas cianóticas complexas. O espectro pode variar de simples tetralogia de Fallot a corações univentriculares complexos, com grandes problemas cirúrgicos associados. O shunt sistêmico para artéria pulmonar fornece a primeira linha de tratamento nas crianças com cianose, sendo menos arriscado e fornecendo fluxo sanguíneo regulado para os pulmões, permitindo o crescimento das artérias pulmonares para o futuro reparo completo.

O crédito para a evolução do shunt vai para Helen Taussig, uma cardiologista pediátrica do Hospital Johns Hopkins. Ela observou que vários pacientes com obstrução do lado direito, ou seja, estenose pulmonar, apresentaram aumento da cianose após o fechamento do canal arterial. Ela, juntamente com Alfred Blalock, cirurgião-chefe do Hospital Johns Hopkins e Vivien Thomas, um técnico cirúrgico, decidiram usar artéria subclávia para conexão da artéria pulmonar, como forma de aumentar o fluxo sanguíneo pulmonar. O principal objetivo da cirurgia paliativa é aumentar o fluxo sanguíneo pulmonar de maneira controlada para aliviar a cianose e melhorar a tolerância ao exercício nos pacientes.

Vivien Thomas, um técnico de laboratório, foi um dos principais colaboradores tanto da base científica quanto do aspecto técnico-cirúrgico do shunt de Blalock-Taussig. Ele fez muitos dos estudos fundamentais no laboratório do Dr. Blalock, desenvolveu o procedimento em cães de laboratório e adaptou instrumentos usados nos animais experimentais para a primeira cirurgia em seres humanos. Blalock foi capaz de fazer apenas um procedimento prático no modelo animal antes de realizar a cirurgia em uma menina de 15 meses com tetralogia de Fallot, em novembro de 1944, no Hospital Universitário Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland (EUA).

Originalmente, o shunt sacrificava a artéria subclávia e a porção proximal era direcionada para baixo, para uma anastomose término-lateral, com o ramo ipsilateral da artéria pulmonar. Desde então, ocorreram muitas modificações na operação original. A derivação de Blalock-Taussig modificada atualmente usa um enxerto sintético, geralmente de politetrafluoretileno expandido, para conectar as artérias.

Referências

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  3. Maluf MA, Andrade JCS, Carvalho A, Catani R, Veja H, Andrade JL, Silva C, Carvalho WB, Buffolo E. Operação de Blalock-Taussig modificada para o tratamento paliativo de cardiopatias congênitas com hipofluxo pulmonar. Ver Bras Cir Cardiovasc. 1995;16(3):126-32.

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