Na cirurgia de revascularização do miocárdio, o uso das artérias torácicas internas bilaterais (ATIB) em uma configuração in situ ou em Y influencia a sobrevida a longo prazo, patência ou reintervenção? Uma revisão sistemática feita por Rory Kelleher et al. [1] verificou se há diferença entre essas duas configurações de realizar uma cirurgia de revascularização.
Nessa revisão, foram encontrados 571 artigos e, desses, apenas oito foram considerados como melhor evidência para responder à pergunta. Desses oito estudos, que compreendiam uma revisão sistemática, quatro testes clínicos randomizados e três estudos observacionais, apenas um sugeriu uma superioridade da configuração em Y em relação à ATIB in situ.
Foi o estudo feito por Glineur et al. [2] que apresentou os resultados de sete anos de acompanhamento. Nele, nenhuma diferença na patência foi encontrada. No entanto, a configuração em Y resultou em menores taxas de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares adversos maiores (ECCAM) em sete anos (p = 0,03; 34 ± 3,9% in situ vs. 25 ± 3,6% em Y). Contudo, os autores também sugeriram que o benefício clínico do enxerto em Y era independente da qualidade da revascularização fornecida pelo próprio enxerto de ATI, mas, em vez disso, em decorrência de um mau resultado a longo prazo de enxertos complementares. Isso pode ser explicado uma vez que mais enxertos complementares foram utilizados no grupo in situ [in situ, 1,1 anastomose por paciente vs. em Y, 0,6 anastomose por paciente (p<0,05)], sendo possível que as diferenças resultassem de um terceiro enxerto complementar de má qualidade e não relacionado à configuração das ATIB.
Nos outros sete estudos[3-9], todos mostraram prognóstico, taxas de ECCAM e de reintervenção entre ambas as configurações sem diferenças significativas, inclusive um deles[5] realizando ergoespirometria e outro [9] fazendo angiografia com 17,5 meses de pós-operatório, também sem diferença estatística.
A literatura atual sugere que não há diferença no prognóstico entre as configurações in situ e em Y. Além disso, a taxa de reintervenção e a patência do enxerto não são afetadas pela configuração do enxerto. Os resultados a longo prazo são semelhantes para as ATIB usadas como enxerto in situ ou em Y.
Referências
1. Kelleher R, Gimpel D, McCormack DJ, El-Gamel A. Does the use of an in situ or Y-configuration for bilateral internal thoracic arteries influence long-term survival, patency or repeat revascularization in coronary bypass surgery? Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2018.
2. Glineur D, Boodhwani M, Hanet C, de Kerchove L, Navarra E, Astarci P, et al. Bilateral internal thoracic artery configuration for coronary artery bypass surgery: a prospective randomized trial. Circ Cardiovasc Interv. 2016;9:7.
3. Glineur D, Hanet C, Poncelet A, D’Hoore W, Funken JC, Rubay J, et al. Comparison of bilateral internal thoracic artery revascularization using in situ or Y-graft configurations: a prospective randomized clinical, functional, and angiographic midterm evaluation. Circulation. 2008;118:S216-21.
4. Nasso G, Coppola R, Bonifazi R, Piancone F, Bozzetti G, Speziale G. Arterial revascularization in primary coronary artery bypass grafting: direct comparison of 4 strategies–results of the Stand in-Y Mammary Study. J Thorac Cardiovasc Surg. 2009;137:1093-100.
5. Gatti G, Castaldi G, Morosin M, Tavcar I, Belgrano M, Benussi B, et al. Double versus single source left-sided coronary revascularization using bilateral internal thoracic artery graft alone. Heart Vessels. 2018;33:113-25.
6. Yanagawa B, Verma S, Jüni P, Tam DY, Mazine A, Puskas JD, et al. A systematic review and meta-analysis of in situ versus composite bilateral internal thoracic artery grafting. J Thorac Cardiovasc Surg. 2017;153:1108-16.e16.
7. Magruder JT, Young A, Grimm JC, Conte JV, Shah AS, Mandal K, et al. Bilateral internal thoracic artery grafting: does graft configuration affect outcome? J Thorac Cardiovasc Surg. 2016;152:120-7.
8. Di Mauro M, Iacò AL, Allam A, Awadi MO, Osman AA, Clemente D, et al. Bilateral internal mammary artery grafting: in situ versus Y-graft. Similar 20-year outcome. Eur J Cardiothorac Surg. 2016;50:729-34.
9. Calafiore AM, Contini M, Vitolla G, Di Mauro M, Mazzei V, Teodori G, et al. Bilateral internal thoracic artery grafting: long-term clinical and angiographic results of in situ versus Y-grafts. J Thorac Cardiovasc Surg. 2000;120:990-6.