A mediastinite é uma grave complicação infecciosa do pós-operatório de cirurgias cardíacas e, embora não seja tão frequente, pode ter consequências devastadoras para o paciente, aumentando morbidade e mortalidade. Embora geralmente detectada nas primeiras duas semanas após a cirurgia, requerendo readmissão imediata, seu início pode ser adiado por mais de um mês em alguns casos.
Os riscos de mediastinite aumentam com a presença de algumas afecções preexistentes ou procedimentos associados, como desnutrição, diabetes, revascularização do miocárdio com utilização das duas artérias torácicas internas, uso abusivo de eletrocautério, doença pulmonar obstrutiva crônica, cirurgia prolongada, tabagismo, longo período de internação hospitalar, entre outros.
A mediastinite é considerada uma infecção que envolve tecidos ou espaços abaixo do tecido subcutâneo e apresenta vários dos seguintes sintomas: edema local e calor, aumento da dor no local da cirurgia, instabilidade esternal, drenagem incisional anormal, bordas da ferida friáveis, descarga purulenta e crepitação ou clique no mediastino. O diagnóstico diferencial pode ser feito com a infecção da ferida esternal superficial, definida como uma infecção envolvendo apenas pele ou tecido subcutâneo no local da incisão e, embora sinais de infecção superficial possam preceder o reconhecimento de mediastinite, elevação da temperatura e sintomas sistêmicos tendem a aparecer em primeiro lugar. Praticamente qualquer organismo pode causar mediastinite, mas estreptococos e estafilococos são os mais frequentes.
O diagnóstico precoce da mediastinite é fundamental para o bom prognóstico e é geralmente fácil em pacientes que desenvolvem a infecção algumas semanas após a cirurgia. A febre persistente, a presença de supurações e/ou mobilidade esternal, a dor localizada ao nível da ferida operatória, a queda do estado geral do paciente e a leucocitose, entre outros indicadores, são fortes indícios da complicação. O diagnóstico pode ser mais difícil em pacientes com elevadas contagem de células brancas e temperatura, mas sem evidência de infecção ou drenagem da ferida. Uma punção através das margens da esternotomia e um aspirado para avaliação podem ser benéficos, mas na maioria dos casos a infecção se torna evidente em poucos dias.
O tratamento da mediastinite requer uma combinação de desbridamento cirúrgico e antibioticoterapia. O tratamento convencional para mediastinite após esternotomia geralmente envolve desbridamento cirúrgico, remoção do fio esternal, irrigação fechada ou reconstrução com omento ou retalhos de músculo peitoral.
Referências
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