“Não há condições de uma nação querer ser moderna com desenvolvimento social e econômico se não tiver base científica e tecnológica.” Esta foi uma das conclusões da Conferência Mundial sobre Ensino Superior realizada pela Unesco em Paris, no ano de 1998. Desde então, a Iniciação Científica passou a ser prioridade nas diversas universidades pelo mundo. No Brasil, por exemplo, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) concedeu 39.678 bolsas de iniciação à pesquisa no país no ano de 2017.
Entretanto, o aluno de graduação nem sempre é capaz de conciliar seus estudos com as obrigações extracurriculares e a vida pessoal, deixando a iniciação científica como segundo plano em grande parte das vezes. Assim, com o objetivo de contribuir para o processo de formação acadêmica e estimular muitos de nossos leitores, o BJCVS Blog entrevistou brevemente uma profissional com ampla experiência na área científica: a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e professora do curso de Medicina da PUC-PR, Prof. Dra. Cristina Pellegrino Baena.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
BJCVS Blog: Dra. Cristina, qual é a importância da iniciação científica durante a graduação?
Dra. Cristina Baena: Sabemos que a formação em pesquisa não é uma formação básica para o médico atual, mas o que se percebe é que ela agrega qualidade à formação médica em diversos itens. O primeiro deles é que o aluno desenvolve o senso crítico e a capacidade de questionamento. Além disso, desenvolve a capacidade de formular perguntas adequadas e responder perguntas também de forma adequada, buscando soluções com certa autonomia e apoiadas em experiências prévias. Outro aspecto interessante é que o aluno aperfeiçoa sua capacidade de comunicação além do que já era previsto em sua formação básica como médico. Esses são os principais motivos pelos quais a iniciação científica é um programa vital para as universidades.
BJCVS Blog: Em sua experiência como professora e coordenadora do programa de pós-graduação de uma universidade, como evoluem esses alunos após a conclusão do curso e inserção no mercado de trabalho?
Dra. Cristina Baena: A experiência demonstra que o envolvimento acadêmico em projetos científicos qualifica melhor o futuro profissional, mesmo que ele não siga a carreira de cientista. Isso porque ele é capaz de fazer uma leitura melhor do ambiente e aplicar de forma prática o conhecimento adquirido durante sua formação científica. Em nosso programa, por exemplo, percebemos que é crescente o número de médicos recém-formados que buscam a pós-graduação não só como agregador de qualidade em sua formação técnica, mas também como opção de carreira para docência e pesquisa.
BJCVS Blog: O que mais chama a atenção nesses alunos?
Dra. Cristina Baena: O aspecto mais interessante é que muitos dos médicos que passaram por uma iniciação científica durante sua formação identificam certos problemas em sua prática clínica e buscam, ainda durante a residência, a pós-graduação como ponte para a solução desses problemas. Isso é fantástico.
Em poucas palavras, essa entrevista demonstrou a importância dos programas de iniciação científica para as universidades do país. Eles são capazes de transformar o perfil do estudante, transformando-o de agente passivo em ativo; e isso ocorre em todos as esferas da ciência, desde a graduação aos programas de pós-graduação, como mestrado e doutorado.
Que os valiosos princípios definidos pela Unesco em 1998 continuem a nortear nosso desenvolvimento social e econômico, pois eles implicarão ganhos não somente para os corpos sociais acadêmicos, mas principalmente para as comunidades em que esses pesquisadores estão inseridos.