A ponte miocárdica é uma anomalia congênita do coração, caracterizada pelo envolvimento de feixes musculares ao redor de um segmento de artéria coronária. A anomalia pode estar presente em até 25% dos adultos e, embora possa ocorrer em qualquer artéria do coração, o local mais comum de acometimento é na artéria descendente anterior (70-90%).
Esses pacientes podem apresentar-se sintomáticos ou não, usualmente sendo a ponte miocárdica um achado diagnóstico durante exames de avaliação anatômica e/ou provas funcionais. O envolvimento dos feixes musculares ao redor de um segmento de vaso sanguíneo pode causar a compressão vascular durante a sístole (e revertendo-se durante a diástole), causando sintomas de isquemia miocárdica.
Os sintomas variam de acordo com idade, frequência cardíaca, grau de hipertrofia ventricular, localização, espessura da ponte miocárdica e presença de aterosclerose. Durante exercícios físicos, por exemplo, há aumento da frequência cardíaca e diminuição do tempo diastólico ventricular; nesses casos, a sintomatologia é exacerbada pela falta de perfusão adequada dos cardiomiócitos – que ocorre principalmente durante a diástole ventricular.
Portanto, os sintomas variam de angina estável a síndromes coronarianas agudas, e aqui podemos encontrar um grande dilema da prática médica: devo suspeitar de ponte miocárdica em todo paciente com sinais de doença arterial coronariana?
A resposta é não. Pela baixa prevalência da doença, deve-se considerar seu diagnóstico em pacientes sintomáticos que não apresentam fatores de risco para doenças cardiovasculares, principalmente em populações jovens (< 30 anos).
Para tratar os sintomas, é necessário um medicamento que seja capaz de aumentar o tempo diastólico ventricular e ao mesmo tempo reduzir a frequência cardíaca do coração – diminuindo consequentemente o consumo de oxigênio. Nesse caso, a primeira linha de medicamentos são os betabloqueadores.
Além dos betabloqueadores, outras opções são os bloqueadores de canal de cálcio (principalmente por diminuírem vasoespasmos) e também a ivabradina, por diminuir a frequência cardíaca. Ainda, antiagregantes plaquetários são sempre recomendados em casos de detecção de aterosclerose, mesmo que subclínica.
Caso o tratamento farmacológico não obtenha êxito, uma abordagem mais invasiva pode ser realizada com stents ou cirurgias (revascularização do miocárdio ou miotomia supra-arterial). Entretanto, essas abordagens são recomendadas somente em pacientes severamente sintomáticos ou em casos refratários ao tratamento farmacológico.
Recomendação de leitura:
Tarantini G, Migliore F, Cademartiri F, Fraccaro C, Iliceto S. Left anterior descending artery myocardial bridging: a clinical approach. J Am Coll Cardiol. 2016 Dec 27;68(25):2887-2899. doi: 10.1016/j.jacc.2016.09.973. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S073510971636764X [Acesso em: 07 fev. 2019].