Todo residente ou cirurgião cardiovascular provavelmente já se viu suspeitando de síndrome pós-pericardiotomia (SPP) durante o acompanhamento pós-operatório de algum paciente. Essa síndrome já é descrita na literatura há cerca de 60 anos, entretanto ainda há pouco consenso quanto a sua fisiopatologia, indicação de profilaxia ou duração do tratamento. Com incidência estimada entre 10 e 40% dos pacientes submetidos a cirurgia cardiovascular, a SPP pode ter um quadro autolimitado de dispneia ou mesmo levar a complicações como tamponamento cardíaco e pericardite constritiva, prolongando a internação hospitalar e os custos relacionados aos cuidados do paciente [1].
Já foram usadas várias definições para a síndrome pós-pericardiotomia. Atualmente, a Força-tarefa para Diagnóstico e Manejo de Doenças Pericárdicas da Sociedade Europeia de Cardiologia [3] define a SPP após confirmação de pelo menos dois dos seguintes critérios após lesão cardíaca: febre sem causa aparente, dor torácica pleurítica, atrito pleural ou pericárdico, evidência de derrame pericárdico e derrame pleural com proteína C reativa (PCR) elevada.
A fisiopatologia da SPP ainda não é completamente compreendida. Entende-se que a inflamação tem um papel imprescindível no seu desenvolvimento. Acredita-se que a lesão na pleura e no pericárdio, a presença de sangue no saco pericárdico, o uso de circulação extracorpórea e a lesão de isquemia-reperfusão podem desencadear uma reação inflamatória local e sistêmica. Os principais fatores de risco já identificados são idade (indivíduos mais jovens são mais propensos a desenvolver SPP), tratamento anterior com prednisona (o que pode estar associado à presença de doença autoimune), anestesia com halotano, baixa contagem de plaquetas, transfusão de sangue, disfunção renal e elevação de citocinas no sangue [2].
O tratamento da SPP em geral é feito com corticosteroides, anti-inflamatórios não hormonais e colchicina, esta também utilizada na profilaxia em pacientes de alto risco para desenvolver a síndrome [1,2]. A indicação formal de profilaxia e o período necessário para o tratamento correto ainda não estão totalmente esclarecidos. Ainda faltam estudos que reforcem o manejo da SPP, tendo em vista sua incidência significativa e a qualidade de vida durante o período pós-operatório.
Referências
Van Osch D, Nathoe HM, Jacob KA, Doevendans PA, Van Dijk D, Suyker WJ, Dieleman JM. Determinants of the postpericardiotomy syndrome: a systematic review. Eur J Clin Invest. 2017;47(6):456-67.Tamarappoo BK, Klein AL. Post-pericardiotomy syndrome. Curr Cardiol Rep. 2016;18:116.Adler Y, Charron P, Imazio M, Badano L, Barón-Esquivias G, Bogaert J, et al. 2015 ESC guidelines for the diagnosis and management of pericardial diseases: The task force for the diagnosis and management of pericardial diseases of the European Society of Cardiology (ESC) endorsed by: the European Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS). Eur Heart J. 2015;7:2921-64.