A técnica “no-touch” para obtenção do enxerto da veia safena na cirurgia de revascularização do miocárdio: seguimento clínico e angiográfico em 3 meses.

Na recente edição do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery, Domingos Souza et al. descreveram o passo-a-passo da técnica “no-touch” para coleta da veia safena como enxerto na cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM), bem como relatam o desfecho clínico e angiográfico num follow-up de 3 meses em um paciente submetido ao procedimento [1].
É bem estabelecido que a CRM é uma das cirurgias mais realizadas no mundo, com números que mostram que cerca de um milhão desse procedimento performado anualmente. O debate que há anos é discutido pelos cirurgiões cardiovasculares é: como melhorar a capacidade dos enxertos e manter sua perviedade em longo prazo após a realização da cirurgia?
Os enxertos arteriais já se estabeleceram como padrão-ouro no que tange à perviedade no decorrer dos anos. Os condutos da artéria torácica interna esquerda (ATIE) são considerados padrão-ouro para a revascularização do miocárdio, com índices que podem chegar a 95% em 10 anos e os enxertos de veia safena, cerca de 50% neste mesmo período. Entretanto, mesmo com índice subótimo de perviedade em longo prazo, a veia safena é amplamente utilizada como enxerto na CRM, em decorrência de sua anatomia, facilidade de acesso e capacidade de fornecer tecido suficiente para revascularização de vários vasos.
Ao se pensar nesse aspecto, é condição sine qua non que a perviedade do enxerto venoso seja garantida a longo termo, ao permitir que o paciente fique o máximo de tempo possível livre de sintomas clínicos de isquemia. Nesse sentido, a técnica “no-touch” para retirada da veia safena foi desenvolvida por Domingo Souza ainda na década de 1990 e têm sido advogada como uma alternativa para melhoria na durabilidade do enxerto, com índices de perviedade que chegam a 90% num seguimento de oito anos e meio, comparável à artéria torácica interna esquerda [2].
A técnica consiste na retirada atraumática da veia, isto é, o cirurgião não manipula diretamente o vaso com o seu instrumental cirúrgico. Além disso, o vaso é retirado com o tecido subcutâneo perilocal, o que é fundamental para a perviedade do enxerto. Com essa técnica, a melhor preservação da integridade do endotélio venoso e da óxido nítrico sintase derivada do endotélio (eNOS) são de extrema importância para manter a durabilidade do mesmo. Ademais, fazem parte deste tecido perivascular: gordura, fibras elásticas, nervos, substâncias vasoativas e vasa vasorum, sendo que estes últimos suprem a parede venosa de nutrientes e oxigênio [3].
Figura demonstrando corte histológico da veia safena com marcação para o colágeno
Na publicação do BJCVS, Souza et al. [1] descrevem a técnica cirúrgica para retirada atraumática da veia safena em seu artigo, bem como por meio de multimídia que mostra detalhadamente os principais passos da obtenção “no-touch” do vaso como enxerto em um paciente de 80 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica, hiperlipidemia e infarto prévio em território de coronária direita com intervenção percutânea, submetido à CRM. A fração de ejeção do paciente era de 55% e ele se queixava de dor torácica anginosa. A cinecorioangiografia demonstrou doença multiarterial, com estenose significante da artéria descendente anterior, de duas artérias marginais, e da artéria descendente posterior, bem como uma diagonal ocluída. Recebeu um enxerto venoso sequencial triplo para a descendente posterior e as duas marginais, em adição a um enxerto venoso sequencial duplo para as artérias diagonal e descendente anterior (DA). Optou-se pela revascularização venosa da DA em decorrência da idade do paciente e estenose de baixo grau do vaso (60-70%). No seguimento de três meses, o paciente encontrava-se completamente assintomática e uma angio-TC revelou patência de todos os enxertos.
Safena “no-touch” retirada
Leia o artigo na integra em http://www.bjcvs.org/index (item 17) ou diretamente pelo link http://www.bjcvs.org/pdfRBCCV/v34n1a17.pdf
Para visualização do vídeo com demonstração da técnica, basta utilizar um leitor de QR code no código que aparece no artigo ou acessar o link: http://bjcvs.org/imagebank/videos/no-touch-saphenous-vein-harvesting-2000.mp4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – Samano N, Pinheiro BB, Souza D. Surgical Aspects of No-Touch Saphenous Vein Graft Harvesting in CABG: Clinical and Angiographic Follow-Up at 3 Months. Braz J Cardiovasc Surg 2019;34(1):98-100.
2 – Souza DS, Johansson B, Bojö L, Karlsson R, Geijer H, Filbey D, et al. Harvesting the saphenous vein with surrounding tissue for CABG provides long-term graft patency comparable to the left internal thoracic artery: results of a randomized longitudinal trial. J Thorac Cardiovasc Surg. 2006;132(2):373-8.
3 – Papakonstantinou NA, Baikoussis NG, Goudevenos J, Papadopoulos G, Apostolakis E. Novel no touch technique of saphenous vein harvesting: Is great graft patency rate provided? Ann Card Anaesth. 2016;19(3):481-8.
2