Vale a pena realizar cirurgia precoce de valva aórtica em assintomáticos?

Os pacientes com estenose aórtica (EA) podem, didaticamente, ser divididos em dois grupos: com e sem sintomas. Os pacientes sem sintomas apresentam uma taxa de mortalidade perto de 1% ao ano, ao passo que os pacientes com sintomas, i.e., dispneia aos esforços, angina ou síncope, podem chegar a taxas de 60% em dois anos. Os diversos guidelines possuem recomendações muito bem definidas para a abordagem de pacientes assintomáticos, incluindo EA muito grave. Será que a abordagem conservadora é a melhor para pacientes com EA grave ainda assintomática, esperando até que desenvolvam sintomas? Ou uma cirurgia precoce seria melhor?

Um estudo reuniu 265 pacientes para avaliar a questão[1]. Parte deles teve a cirurgia inicialmente indicada, em outra parte foi adotada a estratégia de espera vigilante (EV). Do primeiro grupo, 93% dos pacientes realizaram cirurgia, principalmente em decorrência da rápida progressão da estenose ou por doenças cardíacas concomitantes; do segundo grupo, apenas 47% realizaram cirurgia, principalmente pelo aparecimento de sintomas.

A partir da recomendação inicial, seja de cirurgia, seja EV, a mortalidade em 1 ano foi semelhante; para 2 anos, porém, começou a apresentar diferença significativa, com 16% de mortalidade para EV e 7,5% para cirurgia; com 3 anos, passou para 21 e 9%, respectivamente. Pelo estudo, para ambos os grupos, ser submetido à cirurgia era fator de maior sobrevida global, além de tornar a taxa de mortalidade semelhante, independentemente da recomendação inicial.

Dos pacientes que tiveram a conduta de EV, em dois anos, 44% foram submetidos à troca de valva (28%) ou morreram (16%). A troca de valva precoce foi associada a melhor prognóstico. Isso provavelmente se deve ao fato de que, para o grupo EV, não foi possível captar os pacientes assim que eles desenvolveram sintomas e tratá-los no tempo correto. Por fim, até 1 ano, é seguro realizar a estratégia EV, porém as curvas de mortalidade se separam de maneira significativa a partir desse período.

Probabilidade de morte ao longo do tempo no grupo inicialmente recomendado para troca valvar em comparação com o grupo de espera vigilante. (AVR = troca valvar; NaN = não é um número [valor ausente].)

 

Referência

1. Campo J, Tsoris A, Kruse J, Karim A, Andrei AC, Liu M, et al. Prognosis of severe asymptomatic aortic stenosis with and without surgery. Ann Thorac Surg. 2019.

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