Aneurisma de ventrículo esquerdo após infarto do miocárdio


O aneurisma do ventrículo esquerdo é definido como uma porção do ventrículo que se torna fina e dilatada, com margens distintas, que ocorre após infarto transmural, acometendo cerca de 5 a 30% dos pacientes, sendo mais frequente nas obstruções proximais da artéria descendente anterior, e que leva à acinesia ou discinesia de um segmento miocárdico durante a contração ventricular. É a complicação mecânica mais comum após o infarto agudo do miocárdio e se deve à necrose muscular, seguida de formação de cicatriz, como consequência do infarto¹.

A formação de um aneurisma tem efeitos drásticos não apenas sobre a zona infartada, mas também sobre o músculo viável. O diâmetro aumentado da cavidade ventricular leva ao aumento da tensão sobre a parede ventricular. Esta tensão aumentada deprime a função contrátil dos segmentos não aneurismáticos do ventrículo. Este fenômeno, combinado com a perda de volume que se torna necessária para expandir a área aneurismática discinética, pode levar à insuficiência cardíaca, causando mais dilatação ventricular, cujo prognóstico desfavorável é bem conhecido¹.

As quatro principais preocupações em pacientes com aneurisma do ventrículo esquerdo são:

Insuficiência cardíaca: a porção do coração que contém o aneurisma não é contrátil e é frequentemente “discinética”. Isso resulta em diminuição geral da função cardíaca e no desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva.Formação do trombo ventricular esquerdo: quando o sangue se estagna em qualquer área do corpo, existe o risco de agregação plaquetária e formação de trombos. A porção aneurismática do ventrículo não é diferente. Embolização de trombos do ventrículo esquerdo pode levar a acidente vascular cerebral embólico ou outras embolias sistêmicas.Taquicardia ventricular: a cicatriz dentro do aneurisma do ventrículo esquerdo é um foco de arritmias ventriculares que podem levar à morte súbita cardíaca.

Angina pectoris: o tecido aneurismático ainda pode causar sintomas de angina, mesmo se revascularizados.

O aneurisma de ventrículo esquerdo tem como principal diagnóstico diferencial o pseudoaneurisma de ventrículo, que também é bastante frequente após infartos do miocárdio².

O tratamento cirúrgico tem sido frequentemente indicado, com melhora da sintomatologia, da qualidade de vida e sobrevida dos pacientes. A insuficiência cardíaca congestiva, o tromboembolismo arterial sistêmico e as arritmias ventriculares são as principais indicações para a correção cirúrgica do aneurisma. Muitas vezes a correção do aneurisma é realizada concomitantemente com a revascularização do miocárdio, em pacientes anginosos³.

Algumas técnicas no manuseio do infarto agudo do miocárdio (terapia trombolítica, angioplastia coronariana e cirurgia) podem evitar ou reduzir a extensão da lesão miocárdica e a formação do aneurisma do ventrículo esquerdo. Porém, quando o paciente apresenta esta complicação e se mantém sintomático, o tratamento cirúrgico apresenta resultados melhores que o tratamento clínico, quanto ao alívio dos sintomas, à melhora da qualidade de vida e à sobrevida.

Referências

Loures DRR, Carvalho RG, Lima Jr. JD, Costa MAC, Tiszka AL, Dergint AA, et al. Tratamento cirúrgico dos aneurismas de ventrículo esquerdo e isquemia coronária. Rev Bras Cir Cardiovasc. 1997;12(2):122-31.Aguiar J, Barba MDM, Gil JA, Caetano J, Ferreira A, Nobre A, Cravino J. Aneurisma do ventrículo esquerdo e diagnostico diferencial com pseudo-aneurisma. Rev Port Cardiol. 2012;31(6):459-62.Santos GG, Haddad VLS, Avelar Jr. SF, Groppo AA, Beyruti R, Simões RM, Stolf NAG. Tratamento cirúrgico dos aneurismas de ventrículo esquerdo com reconstrução geométrica: aspectos cirúrgicos e resultados imediatos. Rev Bras Cir Cardiovasc. 1991;6(2):116-23.Ayers LL, Somerville C. Left ventricular aneurysm. N Engl J Med. 2014;370(5):164-5.

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