O tratamento cirúrgico da doença coronariana evoluiu muito nos últimos anos, por diversos fatores, sejam eles: destreza do cirurgião, fios e instrumentais cirúrgicos de alto nível, métodos diagnósticos sofisticados, dentre outros. Entretanto, a cirurgia de revascularização miocárdica ainda tem algumas peculiaridades em determinados grupos de pacientes, como – por exemplo – aqueles portadores de doença renal crônica dialítica.
Neste conjunto, é de fundamental relevância citarmos alguns aspectos; o predomínio é de inflamação crônica, aliada ao alto turnover de cálcio, a expressão aumentada de mediadores inflamatórios (fator de necrose tumoral alfa, interleucinas e homocisteína), a coronariopatia anatomicamente complexa (irregularidades parietais, somada a um leito coronariano distal ruim) e ao eventual uso de circulação extracorpórea, compõem um cenário que torna o tratamento cirúrgico desafiador.
Além dos fatores intraoperatórios (leito distal, clampeamento da aorta e uso/tempo de circulação extracorpórea, número de anastomoses), faremos especial menção a uma entidade, bastante conhecida no pós-operatório destes doentes, que é a síndrome vasoplégica. É definida por choque hemodinâmico, havendo diminuição da resistência vascular sistêmica, aumento do índice cardíaco e hipotensão severa, que se instala já nas primeiras horas de pós-operatório.
O tratamento da vasoplegia é pautado no uso de drogas vasoativas e/ou azul de metileno. Em um trabalho recente, no contexto da revascularização miocárdica em renais crônicos dialíticos, o uso de circulação extracorpórea aumentou o risco de vasoplegia em 30%, quando comparados aos doentes submetidos à cirurgia sem extracorpórea.
De modo geral, doenças inflamatórias crônicas têm grande força na equação inflamatória (bem como o by-pass cardiopulmonar), podendo levar a desfechos cirúrgicos não favoráveis; sendo então de fundamental importância a instituição de cuidados intensivos pós-operatórios para a detecção e reconhecimento precoce da vasoplegia.
Referência:
– Hossne Jr, NA. Cardiopulmonary by-pass increases the risk of vasoplegic syndrome after coronary artery by-pass grafting in patients with dialysis-dependent chronic renal failure. Braz J Cardiovasc Surg 2015; 30(4):482-8
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