Como reconhecer ritmos eletrocardiográficos possivelmente indicadores de Morte Súbita em atletas?

No próximo dia 23 de Setembro comemora-se o dia do Portador de Marcapasso. Essa data foi criada pelas associações ABEC (Associação Brasileira de Arritmia, Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca Artificial) e DECA (Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular- SBCCV) para lembrar da importância dos aparelhos implantados, já estima-se que no Brasil, mais de 300 mil pessoas possuam o dispositivo. A data homenageada refere-se tanto a marcapassos, quanto a marcapassos ressincronizadores e cardiodesfibriladores implantáveis (CDI).

As arritmias cardíacas que necessitam de implante de cardiodesfibriladores implantáveis acometem tanto indivíduos idosos, quanto jovens, como é o caso da Síndrome de Brugada, Síndrome do QT longo e da cardiomiopatia hipertrófica, a chamada “Arritmia do atleta”.

O CDI está programado para detectar ritmos anormais que levem a uma taquicardia ventricular e, consequentemente, à morte súbita.

A morte súbita cardíaca é caracterizada como morte de origem cardíaca não esperada, sem origem traumática ou violenta, que ocorre dentro de uma hora desde o início dos sintomas, num indivíduo que não tem uma condição cardiovascular previamente reconhecida que possa ser fatal. Ela pode ter causa congênita (antes dos 35 anos) ou adquirida (após os 35 anos). Nos Estados Unidos, as causas congênitas mais comuns são Cardiomiopatia Hipertrófica e Anomalias de Coronárias. A causa mais comum após os 35 anos é a Doença Aterosclerótica das Coronárias.

A recomendação da American Heart Association (AHA) para atletas de alto desempenho não abrange o eletrocardiograma, somente história clínica e exame físico. Entretanto, existem algumas ressalvas a essa conduta e alguns países, recomendam a triagem com eletrocardiograma nessa população, como é o caso da Itália.

A prática regular de exercícios físicos leva a um remodelamento cardíaco tanto a nível mecânico, quanto elétrico, gerando ondas eletrocardiográficas diferentes da população em geral. Cerca de 60% a 80% dos atletas possuem alterações eletrocardiográficas consideradas anormais. Ocorre uma adaptação fisiológica do sistema nervoso autônomo (aumento do tônus vagal), da espessura das paredes e do tamanho da cavidade do ventrículo esquerdo, possibilitando um aumento do enchimento do ventrículo esquerdo durante a diástole.

Alterações consideradas normais em atletas são:

  • Bradicardia sinusal, definida como frequência menor que 60 bpm, porém deve ser ≥30bpm.
  • Arritmia sinusal
  • Ritmo ectópico auricular
  • Ritmo de escape juncional
  • Bloqueio AV de 1.° grau (intervalo PR >200ms)
  • Bloqueio AV de 2.° grau Mobitz tipo I (Wenckebach)
  • Bloqueio incompleto de ramo direito
  • Critério de voltagem isolado de HVE. Exceto: critério de voltagem para HVE que ocorre com qualquer outro critério para HVE, como aumento da aurícula esquerda, desvio esquerdo do eixo, depressão do segmento ST, inversão da onda T ou ondas Q patológicas.
  • Repolarização precoce (elevação ST, elevação do ponto J, ondas J, porção terminal do QRS prolongada
  • Elevação convexa («em cúpula») do segmento ST combinado com inversão da onda T nas derivações V1‐V4 em atletas negros/africanos.
  • As alterações consideradas anormais em atletas são:
  • Ondas Q patológicas: >3mm de amplitude e/ou >40ms de duração em duas ou mais derivações (exceto III e aVR).
  • Depressão do segmento ST: ≥0,5mm de infradesnivelamento em duas ou mais derivações.
  • Inversão da onda T: >1mm em amplitude em duas ou mais derivações V2‐V6, DII e aVF, ou DI e aVL (excluindo DII, aVR e V1).
  • Aumento da aurícula esquerda Duração da onda: p>120ms nas derivações DI ou DII com uma componente negativa da onda p≥1mm em amplitude e ≥40ms em duração em V1.
  • Bloqueio completo de ramo esquerdo: QRS ≥120ms, predominantemente negativo em V1/QS ou rS), onda R vertical monofásica em DI e V6.
  • Taquiarritmias auriculares: Taquicardia supraventricular, fibrilação auricular, flutter auricular.
  • Atraso da condução intraventricular: qualquer QRS≥140ms.

Dessa forma, a identificação de ritmos eletrocardiográficos anormais para atletas, apesar da presença de falsos positivos, requer uma investigação mais detalhada da anatomia e condução elétrica do paciente portador. Isso permite uma identificação precoce de ritmos possivelmente capazes de provocar a morte súbita cardíaca e sua prevenção através da implantação do cardiodesfibrilador implantável.

Referências:

1. Machado M., Vaz Silva M. Benign and pathological electrocardiographic changes in athletes. Rev Port Cardiol. 2015 Dec;34(12):753-70. doi: 10.1016/j.repc.2015.07.007. Epub 2015 Nov 28.

2. Liz Almeida R., Providência R., Gonçalves L. Use of implantable cardioverter-defibrillators in athletes: A systematic review. Rev Port Cardiol. 2015 Jun;34(6):411-9. doi: 10.1016/j.repc.2014.11.007. Epub 2015 Jun 3.

3. J. Perk,G. De Backer,H. Gohlke. European guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice (version 2012): the Fifth Joint Task Force of the European Society of Cardiology and other societies on cardiovascular disease prevention in clinical practice (constituted by representatives of nine societies and by invited experts). Int J Behav Med., 19 (2012), pp. 403-488.

4. I.M. Asif,A.L. Rao,J.A. Drezner. Sudden cardiac death in young athletes: what is the role of screening?. Curr Opin Cardiol., 28 (2013), pp. 55-62.

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