Desafiando limites e expandindo horizontes: a experiência internacional de uma acadêmica brasileira

Desafios sempre foram uma fonte de fascínio para Nathalia, principalmente os que a direcionavam ao desconhecido. “Lembro-me de, quando adolescente, ler e reler livros de anatomia na tentativa de entender como era possível abrir e consertar o corpo humano”, conta. Foi esse fascínio pelo tão enigmático e intrigante mundo da cirurgia que a levou a optar pela medicina.

Aos 19 anos, Nathalia se tornou caloura do curso de medicina da Universidade Federal do Ceará e logo começou a acompanhar vários tipos de cirurgias, sempre cheia de curiosidade. Dentre todas, a cirurgia cardíaca a cativou de uma forma particular. “Desde o início, o centro cirúrgico já tinha um ar encantador, mas tive certeza de que aquele era o meu lugar durante a primeira cirurgia cardíaca a que assisti. Tudo parecia diferente: tão mais vibrante, tão mais harmonioso e vivo! Além da beleza da cirurgia, a possibilidade de lidar com pacientes muito graves, podendo salvá-los, era o desafio mais recompensador que eu poderia desejar vivenciar na minha profissão”, afirma.

Assim, a acadêmica procurou se engajar em atividades relacionadas à cirurgia cardiovascular. Primeiro, em nível nacional, realizou estágio em Porto Alegre (RS) e participou de conferências relacionadas ao tema, em especial, de um evento realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, que congregou vários palestrantes internacionais. Esse evento a instigou a buscar novas experiências internacionais na especialidade.

Essa oportunidade surgiu em 2015, quando a estudante foi selecionada para participar do programa de mobilidade acadêmica na University of Roehampton, Londres, por um ano. Ela viu nesse programa um meio de vivenciar a cirurgia cardíaca em nível internacional, além do desafio de viver em uma cidade completamente diferente e, até então, desconhecida. Por isso, Nathalia não precisou pensar muito e, em julho de 2015, mudou-se para Londres.

Após meses planejando detalhadamente cada atividade, Nathalia iniciou estágio de pesquisa no William Harvey Research Institute, centro londrino especializado em pesquisa cardiovascular. Ela desenvolveu, durante 3 meses, a primeira fase de um projeto relacionado ao estudo do envolvimento de um novo receptor, chamado GPR20, na regulação da pressão arterial.

Finalizada a experiência em pesquisa, a acadêmica realizou estágio em cirurgia cardiotorácica em quatro dos mais renomados hospitais britânicos.

No Papworth Hospital, hospital-escola da Universidade de Cambridge, ela participou das mesmas atividades dos alunos do último ano do curso de medicina da universidade, tendo oportunidade de acompanhar sessões clínicas, assim como auxiliar em procedimentos na enfermaria e no centro cirúrgico.

 

Eletivo médico realizado no serviço de cirurgia cardiotorácica do Papworth Hospital (Hospital da Universidade de Cambridge).

 

No St. Thomas’ Hospital, hospital universitário londrino, ela ficou sob tutoria do professor Vinayak Bapat, podendo acompanhar diversas técnicas de cirurgia cardíaca minimamente invasiva, assim como a rotina da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de enfermarias e ambulatórios.

 

Nathalia com o professor Vinayak Bapat, seu tutor durante o eletivo médico no serviço de cirurgia cardiotorácica no St. Thomas’ Hospital.

No Harefield Hospital, centro de referência londrino em transplante de coração e pulmão, Nathalia pôde acompanhar transplantes de coração e pulmão, assim como implantes de dispositivos de assistência ventricular.

Parte da equipe de residentes em cirurgia cardiotorácica do Harefield Hospital e o doutor Shahzad Raja, líder cirúrgico e tutor de Nathalia (2º da direita para a esquerda).

 

No Manchester Royal Infirmary, hospital universitário de Manchester, a aluna acompanhou o serviço de cirurgia cardíaca pediátrica, participando de sessões clínicas e de atividades ambulatoriais relacionadas à subespecialidade.

A estudante também realizou estágio no Leipzig Heart Center (Leipzig, Alemanha), um dos mais relevantes centros em cirurgia cardíaca minimamente invasiva do mundo. Ela acompanhou uma diversa gama de procedimentos cirúrgicos, assim como a rotina pré-operatória e pós-operatória do centro.

Além da experiência em eletivos médicos, Nathalia participou de mais de 20 eventos científicos internacionais relacionados à cirurgia cardiotorácica, à cardiologia e a habilidades cirúrgicas. Inglaterra, Escócia, Holanda, Turquia e Alemanha foram alguns dos países que a aluna esteve em busca do aprimoramento de seus conhecimentos na especialidade. Além de participar como congressista, Nathalia teve oportunidade de apresentar dez trabalhos nos congressos que participou, sendo também convidada para realizar uma keynote presentation na sessão principal do 12th International Congress of Update in Cardiology and Cardiovascular Surgery. Um dos trabalhos em que participou como coautora foi premiado no London Aorta Masterclass 2015.

Keynote presentation durante o valve summit do 12th International Update in Cardiology and Cardiovascular Surgery (UCCVS) Congress, Turquia.

 

Resumo premiado durante o London Aorta Masterclass 2015.

 

Próximo ao fim dessa experiência internacional, Nathalia planeja retornar ao Brasil e aplicar o conhecimento adquirido durante esse ano em projetos que ela pretende desenvolver nacionalmente. Atualmente, a aluna é presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas em Cirurgia Cardiovascular (DBLACCV), parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), e planeja desenvolver projetos que permitam que outros estudantes tenham acesso a experiências internacionais semelhantes.

Por fim, Nathalia afirma que, além do ganho acadêmico do último ano, ela experimentou o maior aprendizado pessoal de sua vida. “É imensurável a riqueza de conhecimento que se ganha, não somente no âmbito científico, mas principalmente no âmbito pessoal. Viver em uma atmosfera completamente cosmopolita, ser desafiada a superar diariamente barreiras culturais, linguísticas e comportamentais, aprender tantas outras perspectivas de acolher e tratar a dor humana nos ensina muito sobre respeito, tolerância e altruísmo, adjetivos essenciais ao médico, independentemente da especialidade escolhida. Além disso, sair de nossa zona de conforto nos faz redimensionar nosso poder de resiliência, nossa capacidade criativa e nossas verdadeiras motivações. Esse aprendizado, embora fundamental, não é ensinado nos bancos universitários, mas está ao alcance daqueles que dizem sim aos desafios, ao desconhecido, às descobertas. Concluindo, repito uma das frases que tem me guiado desde minhas primeiras recordações: para todas as boas oportunidades na sua vida, diga sempre sim”.

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