Procedimentos cirúrgicos cardíacos, por sua complexidade, estão entre aqueles com mais longa curva de aprendizado¹. Adicionalmente, a especialidade tem passado por intensas mudanças, com inserção de procedimentos minimamente invasivos e endovasculares, que demandam novas habilidades dos médicos em treinamento. Por isso, a criação de simuladores cirúrgicos que possibilitem ao residente e acadêmico o aprendizado de etapas tecnicamente desafiadoras de procedimentos cardíacos, com a conveniência de treinar através de aplicativos eletrônicos, tem se mostrado uma alternativa promissora de aprendizado, principalmente na Europa e EUA².
Nesse contexto, o aplicativo Touch Surgery vem se destacado como uma atrativa ferramenta de simulação cirúrgica. O sistema é fundamentado no processo denominado simulação de tarefas cognitivas, em que cada cirurgia é fragmentada em uma série de pequenos passos fundamentais e pontos de tomada de decisão, usando um ambiente virtual com animações em 3D. Além disso, o sistema possui um roteiro de aprendizado que avalia o progresso individual durante cada procedimento, dando feedbacks sobre erros e acertos na execução das atividades. Assim, o método contribui principalmente na formação de habilidades cognitivas relacionadas à tomada de decisões, identificação de riscos e sistematização de passos cirúrgicos.
Figura 1: Touch Surgery (BBC)
Atualmente, o aplicativo possui em torno de 50 atividades distribuídas em várias especialidades cirúrgicas. Procedimentos fundamentais para todo cirurgião cardíaco, como anastomoses, esternotomias, dissecção de artéria torácica interna e canulação para circulação extracorpórea (CEC) estão disponíveis para treinamento³. Uma limitação da versão atual do aplicativo é a falta de uma ampla diversidade de simulações específicas em cirurgia cardíaca, todavia novos modelos na especialidade estão sendo projetados⁴.
Figura 2: simulação esternotomia e fechamento do esterno (Touch Surgery).
Também em fase de progressão, o sistema tem desenvolvido um programa de residência virtual, que atua como uma fonte complementar sistematizada para treinamento de residentes. Hospitais de Harvard Medical School, Johns Hopkins e Cleveland Clinic estão entre os que aderiram ao projeto³. Além disso, os idealizadores do aplicativo têm trabalhado na criação de um ambiente interativo que permita a troca de informações entre cirurgiões de todo o mundo⁴.
Assim, este projeto tem mostrado a viabilidade da complementação do treinamento em cirurgia cardíaca sem uso de extensos livros ou modelos animais. O que parecia futurista há algumas décadas, hoje se mostra uma realidade factível.
Referências Bibliográficas
- Maruthappu, M. et al. Surgical learning curves and operative efficiency: a cross-specialty observational study. BMJ Open, v. 5, n. 3, p. e6679-e6679, 2015.
- Brewer, Z. et al. Creation and Global Deployment of a Mobile, Application-Based Cognitive Simulator for Cardiac Surgical Procedures. Seminars in Thoracic and Cardiovascular Surgery, v. 28, n. 1, p. 1-9, 2016.
- Home | Touch Surgery Surgical Simulator | The Virtual Surgery App. Disponível em: <https://www.touchsurgery.com/>. Acesso em: 15 nov. 2016.
- Wainwright, O. Touch Surgery: the iPad app that teaches surgeons how to operate. Disponível em: <https://www.theguardian.com/artanddesign/architecture-design-blog/2013/feb/27/touch-surgery-ipad-app-surgeons-learn>. Acesso em: 15 nov. 2016.
