Ser médico é aliar técnica e comunicação; conhecimento e humildade; desafio e realidade; atenção e respeito pelo doente. É uma carreira concorrida e desejada por muitos, e que certamente envolve um processo longo de formação e preparo para a atuação no mercado de trabalho.
Dentro desse processo, o currículo médico tem por missão oferecer uma boa formação acadêmica, aliada ao estabelecimento e refinamento da relação médico-paciente. Criticado por muitos, o atual modelo (ciclo básico – ciclo profissionalizante – internato) ainda é deficitário no que tange ao preparo do futuro médico em suas habilidades sociais, seja pela carga horária extensivamente teórica, seja pela aproximação tardia à prática, seja pela sobreposição da pós-graduação.
Em meio a este panorama, merecem destaque especial os mentores e tutores acadêmicos. Todos admiramos determinados profissionais durante nossa caminhada. Quem nunca se viu perguntando: Será que um dia vou ser igual a ele? É justamente esse o ponto de nossa discussão.
O mentor é guia. Deverá aconselhar, compartilhar e apoiar: sejam experiências e lições de vida, aprendizado e fracassos, conhecimento científico e suas aplicações práticas, relação médico-paciente e “bedside teaching”. Os melhores exemplos de mentor e aluno são baseados na honestidade, expectativas concisas e comunicação aberta. Para tal, o aluno deve ter em mente um objetivo muito claro sobre o que irá aprender, bem como deve estar aberto a críticas / sugestões e, principalmente, estar disposto a trabalhar em prol de seu crescimento pessoal.
Voltando ao tema inicial, o quão importante é o mentor a ponto de influenciar a escolha da especialidade? Um estudo alemão aponta que um programa de mentoria bem estruturado, aliado a um estágio teórico-prático adequado, pode sim ser decisivo na escolha do aluno. Felizmente, isso é o que verificamos na prática; colegas que hoje estão adentrando à cirurgia cardiovascular um dia tiveram grandes nomes como seus doutrinadores.
A SBCCV tem a honra de congregar cirurgiões de renome internacional, cada qual desempenhando seu papel social e servindo de exemplo às novas gerações. Não faltam ícones de sucesso dos programas de mentoria em nosso cotidiano e acreditamos que estes devem estar cada vez mais presentes nos cursos de medicina, para que possamos superar as dificuldades curriculares e, em última análise, formarmos médicos cada vez melhores.
Referências:
Youngblood JH et al. Reflections on leadership: Mentoring matters. Heart Rhythm 2016
Kasch R, Wirkner J, Hosten N et al. Subinternship in Radiology – A Practical Start to the Specialization? Fortschr Röntgenstr 2016
Azizzadeh A, McCollum CH, Lucci A Jr et al. Factors influencing career choice among medical students interested in surgery. Current Surgery 2003
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