Por que a arte de Leonardo Da Vinci revolucionou a Ciência Cardiovascular?

Leonardo da Vinci é considerado um dos pintores mais revolucionários da humanidade. Suas produções, frutos de uma notável habilidade artística aliada a conhecimentos técnicos sobre morfologia e fisiologia humana, foram substrato para relevantes descobertas na medicina. Das mais de 800 ilustrações anatômicas feitas por da Vinci, representativa parcela tem o sistema cardiovascular como principal temática. O notável interesse do pintor pelo corpo humano e, em especial, pela mecânica e hidrostática que regiam o funcionamento do coração e vasos o levou a dissecar mais de 10 corpos humanos buscando entender a circulação sanguínea. Por isso, as pinturas de da Vinci são consideradas um marco para a ciência cardiovascular, pois romperam paradigmas e elucidaram aspectos relevantes e ainda hoje aceitos sobre o funcionamento cardíaco.

Figura 1: Auto-retrato de Leonardo Da Vinci (Ann Thoracic Surg 1991; 52:328-35).

Dentre as mais importantes contribuições de da Vinci, destaca-se a pioneira noção sobre o ciclo cardíaco e o assincronismo na dilatação e contração dos átrios e ventrículos. Ele mostrou que o coração é um músculo que impulsiona sangue em um sistema de vasos por meio da sístole ventricular, ideia que se opunha ao princípio até então vigente de que o coração era a fonte de ‘espíritos vitais’, sendo a diástole responsável pela movimentação do sangue nos vasos.

Também são de Leonardo os mais antigos registros sobre as artérias coronárias. Ele detalhou a estrutura de artérias que coroavam o coração, adentrando no músculo cardíaco. Além disso, relatos do artista mostram seu insight sobre a doença arterial coronariana em idosos: “A artéria e a veia que, nos idosos, estão entre o baço e o fígado, adquirem uma espessura tão considerável de pele que dificulta a passagem do sangue …”.

Figura 2: Figura de Leonardo mostrando vasos coronarianos (BBC News).

Em relação ao mecanismo de funcionamento das válvulas cardíacas, da Vinci descreveu a conformação dos folhetos, assim como a importância de correntes de fluxo sanguíneo no seio de valsalva para o fechamento da válvula aórtica. O pintor também contribuiu na identificação de novas estruturas cardíacas, como a trabécula septomarginal, além de observar alterações morfológicas como o Forame Oval Patente.

Figura 3: Figura de Leonardo detalhando válvulas cardíacas (Ann Thoracic Surg 1991; 52:328-35).

Desse modo, o legado de Leonardo da Vinci foi força motriz para avanços na cardiologia e cirurgia cardiovascular. Sua criatividade, aliada à insaciável busca por desbravar o novo, mostrou-se revolucionária, nos ensinando que o questionamento de verdades prontas e o desafio a limitações impostas são nossos grandes aliados no descortinamento do conhecimento.

Referências Bibliográficas

  1. Robicsek, F. Leonardo da Vinci and the sinuses of Valsalva. The Annals of Thoracic Surgery, v. 52, n. 2, p. 328-335, 1991.
  2. Shoja, M. et al. Leonardo da Vinci’s studies of the heart. International Journal of Cardiology, v. 167, n. 4, p. 1126-1133, 2013.
  3. What Leonardo taught us about the heart – BBC News. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/health-28054468>. Acesso em: 25 jan. 2017.
  4. Wells, F. The heart of Leonardo. Traducao . 1. ed. Heidelberg: Springer, 2013.
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