Meu Cirurgião Cardíaco Realmente Opera Bem?: Uma Reflexão Sobre o Sistema de Avaliação Britânico

Imagine que, em uma situação hipotética, o paciente precise ser submetido à uma cirurgia cardíaca. Inevitavelmente o grande questionamento seria:

“ Qual é o melhor cirurgião para realizar o procedimento? ”

Para guiar a escolha do paciente, seria disponibilizado um banco de dados com resultados individuais das operações realizadas pelos cirurgiões cardíacos nacionais.

Ter acesso a essas informações possivelmente daria mais segurança à população, além de tornar mais transparente o nível de qualidade de serviço que lhe será prestado.

Foi partindo desse princípio que o sistema público de saúde britânico (National Health Service – NHS) tem publicado, desde 2013, dados referentes ao desempenho individual de cirurgiões em diversas especialidades, incluindo Cirurgia Cardíaca. As informações podem ser acessadas no site MyNHS e incluem, para cada cirurgião cardíaco, o número total de procedimentos realizados, assim como a quantidade especifica de cada procedimento (incluindo cirurgia de revascularização do miocárdio, troca valvar aórtica e mitral e procedimentos combinados). Além disso, é disponibilizada a taxa de sobrevida intra-hospitalar (risco-ajustada), comparando ao valor médio dos cirurgiões nacionais.

Figura 1: Gráficos com parâmetros disponíveis (MyNHS)

Este sistema tem sido considerado uma potente ferramenta para autonomia do paciente, além de promover transparência na qualidade dos procedimentos cardíacos e, segundo alguns estudos, estimular o aperfeiçoamento do serviço prestado à população.

Todavia, algumas ressalvas sobre a efetividade do sistema têm sido feitas. A atual recusa de muitos cirurgiões cardíacos britânicos em operar casos mais complexos, visando evitar o acréscimo de suas taxas de mortalidade individuais tem sido um dos principais alvos de crítica ao banco de dados. Além disso, questiona-se a acurácia e escassez de informações (não são disponibilizados dados como tempo de permanência intra-hospitalar e re-abordagens) além do impacto dessas informações na formação e estabelecimento da carreira de novos cirurgiões cardíacos.

Apesar das opiniões divergentes quanto à efetividade desse sistema, a comunidade médica britânica tem concordado quanto à ideia de que a transparência nos resultados dos procedimentos cirúrgicos já está efetivada como direito do paciente, não podendo mais ser negada a estes. A próxima meta é aperfeiçoar o sistema para que este beneficie tanto pacientes como profissionais.

Referências Bibliográficas:

Grant, S. et al. Creating transparency in UK adult cardiac surgery data. Heart, v. 99, n. 15, p. 1067-1068, 2013.

My NHS: Consultants cardiac surgery. Disponível em: <https://www.nhs.uk/service-search/consultants/performanceindicators/>. Acesso em: 25 abr. 2017.

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Transparency in the NHS not only saves lives – it is a fundamental human right. Disponível em: <https://www.theguardian.com/society/2013/mar/12/nhs-transparency-open-data-initiative>. Acesso em: 24 abr. 2017.

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