O balão intra-aórtico (BIA) é um recurso amplamente utilizado em cirurgia cardiovascular e em unidades de terapia intensiva, sendo considerado o dispositivo de assistência circulatória mecânica (ACM) mais utilizado. Seu principal uso consiste no cuidado do paciente em choque cardiogênico, mas seus efeitos e benefícios ainda não estão completamente esclarecidos[1].
O BIA baseia-se no princípio da contrapulsação arterial, sincronizado com o ciclo cardíaco, descrito pela primeira vez na década de 1960 em modelos animais. Na mesma década foi desenvolvido o primeiro BIA, que consistia em um balão acoplado a um cateter flexível que inflava durante a diástole e desinflava durante a sístole. A lógica deste sistema é simples: ao inflar durante a diástole, há um aumento no fluxo coronariano e consequente aumento no aporte de oxigênio ao miocárdio; concomitantemente, ao desinflar na sístole, há redução da pós-carga e, portanto, redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio e aumento do débito cardíaco[1].
Estudos evidenciam benefícios do uso do balão intra-aórtico no choque cardiogênico, reportando maiores perfusões cerebral, renal e periférica. Nota-se também diminuição do trabalho cardíaco, aumento da perfusão coronariana e melhora hemodinâmica. Entretanto, não há aumento da contratilidade cardíaca com o emprego do BIA[1].
O cateter do BIA é inserido de forma percutânea na artéria femoral até posicionamento do balão na aorta torácica descendente[2], sendo sincronizado por meio da leitura eletrocardiográfica da onda R ou pela medida da pressão arterial aórtica, esta otimizada com modelos recentes de manômetros de fibra óptica[1].
Há diversas indicações clínicas para a utilização do BIA. A principal é a instabilidade hemodinâmica, como o choque cardiogênico após infarto agudo do miocárdio. Ainda assim, não é um consenso na literatura, não sendo indicado de forma rotineira nas diretrizes. Não há evidências de benefício clínico no emprego do BIA no IAM sem choque cardiogênico[2]. Há estudos que mostram benefício do BIA no pré e perioperatório de pacientes com alto risco cardiovascular, além de seu uso em pacientes na lista de espera para transplante cardíaco[1]. Mesmo com os avanços tecnológicos do dispositivo, ainda se observam relatos de complicações em sua inserção, como isquemia, sangramento, trombose, dissecção aórtica e ruptura do balão[1].
Nesse contexto, um ensaio clínico randomizado realizado no InCor-USP por Rocha Ferreira et al. estudou os efeitos do uso do Balão Intra-aórtico em pacientes de alto risco cardiovascular submetidos a revascularização do miocárdio eletiva. Os 181 pacientes foram divididos em dois grupos. No primeiro grupo, o BIA foi inserido antes da incisão e após indução anestésica e o segundo não utilizou o dispositivo. Após um acompanhamento de 30 dias de pós-operatório, este estudo concluiu que não houve benefício em utilizar o BIA levando em consideração mortalidade e principais complicações[3].
Há necessidade de mais estudos sobre as indicações, seleção de pacientes e momento de instalação do BIA. Atualmente são desenvolvidos outros dispositivos de ACM, como o ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), que podem ser utilizados para auxiliar no tratamento de pacientes graves nas unidades de terapia intensiva e contribuir com a cirurgia cardiovascular na abordagem de casos mais complicados.
REFERÊNCIAS
1- Maeda K, Takanashi S, Saiki Y. Perioperative use of intra-aortic balloon pump: where do we stand in 2018? Curr Opin Cardiol. 2018;33(6):613-21.
2- Thomaz PG, Moura-Junior LA, Muramoto G, Assad RS. Balão intra-aórtico no choque cardiogênico: o estado da arte. Rev Col Bras Cir. 2017;44(1):102-6.
3- Rocha Ferreira GS, de Almeida JP, Landoni G, Vincent JL, Fominskiy E, Gomes Galas FRB, et al. Effect of a perioperative intra-aortic balloon pump in high-risk cardiac surgery patients: a randomized clinical trial. Crit Care Med. 2018;46(8):e742-50.