A cirurgia de revascularização do miocárdio deveria ser uma subespecialidade médica?

A subespecialização (ou superespecialização) é um caminho natural e crescente no campo de atuação médico, especialmente entre as especialidades cirúrgicas. Um grande exemplo é o médico ortopedista, que, após finalizar sua formação geral em ortopedia, depara com a opção de se subespecializar em ombro, joelho, coluna, quadril, tornozelo ou mão. O mesmo ocorre com a cirurgia geral, que pode se subdividir em cirurgia do aparelho digestivo, cirurgia hepatobiliar, esofágica e transplantes.

De forma semelhante, na cirurgia cardiovascular também existem profissionais que se dedicam especificamente a algumas áreas, como doenças da aorta, cardiopatias congênitas e regeneração tecidual. Apesar disso, ainda não existe um número considerável de profissionais que se declaram como especialistas em doenças das coronárias (especialmente na cirurgia de revascularização do miocárdio).

A cirurgia de revascularização do miocárdio é uma das cirurgias mais realizadas do mundo, alcançando quase um milhão de procedimentos por ano em todo o globo. Ainda assim, poucos indivíduos se denominam como especialistas nesse procedimento, mesmo sendo uma operação com alto grau de demanda técnica e que é comprovadamente capaz de alterar o desfecho de um paciente portador de coronariopatia.

Sequência de imagens demonstrando técnica de anastomose distal. Fonte: Cardiac Surgery in the adult – 4ª edição.

Um notável professor de cirurgia cardiovascular da Universidade de Oxford, Dr. David Taggart, é um desses poucos indivíduos que se dedicam especialmente ao estudo das doenças coronarianas. Conhecido por seus artigos relacionados ao tema, Dr. Taggart sugeriu, em um recente editorial, a ideia de que a cirurgia de revascularização do miocárdio deveria ser uma subespecialidade da cirurgia cardiovascular.

Com base no argumento de que a prática levaria à perfeição, o cirurgião de Oxford sugere que os profissionais semelhantes a ele – ou seja, com grande interesse em coronariopatias –, identifiquem-se, unam-se, sejam reconhecidos e promovidos pelas sociedades para que surjam grandes equipes compostas por cirurgiões cardíacos, cardiologistas clínicos e intervencionistas com foco em casos complexos e de alto risco patológico, para que haja uma expansão da área e o desenvolvimento de fóruns educacionais para solidificação do conhecimento e aperfeiçoamento de técnicas.

Exemplo de sala cirúrgica híbrida.

Em seu artigo, o cirurgião lembra da existência de institutos de câncer certificados por entidades oncológicas e centros de trauma certificados pelas sociedades de cirurgia; da mesma maneira, o britânico aconselha que esse grande grupo de profissionais voltados para as doenças coronarianas seja criado e desenvolvido de forma semelhante, envolvendo especialmente a cirurgia de revascularização do miocárdio e suas diversas técnicas, com múltiplos enxertos arteriais, com ou sem circulação extracorpórea, cirurgias híbridas, minimamente invasivas e robóticas.

A cirurgia de revascularização do miocárdio é, sem dúvidas, um dos maiores marcos da cirurgia cardiovascular na humanidade; em virtude dessa importância e complexidade técnica/cirúrgica, talvez ainda seja tempo de os apaixonados pela área se unirem e amadurecerem as ideias de Taggart, conceituando uma nova subespecialidade – como ocorre em outras áreas da medicina –, ou até mesmo solidificando o conhecimento já adquirido, de forma a continuar oferecendo sempre a melhor assistência médica possível aos pacientes portadores de coronariopatias.

Sugestão de leitura

Mack M, Taggart D. Coronary revascularization should be a subspecialty focus in cardiac surgery. J Thorac Cardiovasc Surg. 2018. Disponível em: https://www.jtcvs.org/article/S0022-5223(18)32354-7/pdf [Acesso em: 13 dez. 2018].

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