A insuficiência cardíaca (IC) é a consequência final de quase todas as cardiopatias e sua prevalência tem aumentado de forma exponencial nos últimos anos. Dados da American Heart Association estimavam a prevalência de 5,1 milhões de indivíduos com IC somente nos Estados Unidos até 2012, e as projeções mostram que a prevalência da IC aumentará 46% até 2030, resultando em mais de 8 milhões de pessoas acometidas [1].
Apesar dos avanços clínicos, farmacológicos e cirúrgicos para o tratamento da IC, muitos pacientes ainda evoluem para o quadro avançado da doença, sendo o transplante cardíaco a última opção terapêutica efetiva para esses pacientes. Porém, ainda enfrentamos importantes limitações em relação ao transplante cardíaco.
Infelizmente ainda há uma escassez de doadores, escassez de centros transplantadores e esses pacientes frequentemente apresentam contraindicações para o transplante cardíaco. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que, no ano de 2018, foram realizados apenas 266 transplantes cardíacos no país, o que evidencia a necessidade urgente de uma terapêutica alternativa para esse grupo de doentes.
Uma das soluções foi encontrada nos dispositivos de assistência ventricular ainda na década de 1980. A principal função desses dispositivos é permitir um descanso ao músculo cardíaco: o dispositivo bombeia o sangue proveniente do átrio esquerdo para a artéria aorta, diminuindo a utilização das fibras do ventrículo esquerdo.
Dessa forma, ele é capaz de proporcionar melhora na qualidade de vida e aumento na probabilidade de sobrevida até que o transplante seja instituído, ou simplesmente haja recuperação da função cardíaca. No Brasil, o primeiro caso foi descrito em 1994, em um paciente com cardiomiopatia por doença de Chagas que recebeu um dispositivo de assistência ventricular como ponte para o transplante cardíaco.
Existem indicações precisas para o uso desses dispositivos, que variam de acordo com a condição clínica do paciente e as comorbidades associadas. Ainda assim, o número de implantes desses dispositivos no Brasil é substancialmente menor que nos Estados Unidos e na Europa, e isso deve-se aos custos diretos e indiretos do implante, que podem chegar a valores próximos a 500 mil reais.
Alguns pesquisadores brasileiros já idealizaram dispositivos nacionais com o objetivo de proporcionar um suporte cardíaco com custo acessível ao SUS, como DAV e K-Pump. Entretanto, não chegaram a ser produzidos de forma industrial.
Em razão da alta prevalência da IC em nosso país e do baixo número de transplantes para suprir essa demanda, precisamos urgentemente de trabalhos que possam dar continuidade aos estudos dos dispositivos nacionais, de forma a oferecer uma opção mais acessível e eficaz aos pacientes portadores de IC avançada.
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Referências:
1. Albuquerque DC, Neto JDS, Bacal F, Rohde LEP, Bernardez-Pereira S, Berwanger O, Almeida DR, Investigadores Estudo BREATHE. I Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca – Aspectos Clínicos, Qualidade Assistencial e Desfechos Hospitalares. Arq Bras Cardiol. [online]. 2015;104, (6).
2. Bocchi EA, Vieira ML, Fiorelli A, Hayashida S, Mayzato M, Leirner A, et al. Perfil hemodinâmico e neuro-hormonal durante assistência circulatória com ventrículo artificial heterotópico seguida de transplante cardíaco. Arq Bras Cardiol. 1994;62(1):23-7.[RSC1]
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