Tecnologias disruptivas e medicinal translacional são dois termos frequentemente ouvidos e lidos em várias áreas da ciência e da medicina. São expressões cada vez mais compreendidas e possíveis graças ao grande avanço tecnocientífico que atingimos. Um exemplo disso é visto na Figura 1, que mostra a velocidade exponencial de disseminação das tecnologias.
Figura 1. Fonte: https://steemit.com/english/@jaimewilliam/number-of-years-it-took-for-each-product-to-reach-50-millions-users. Adaptado por @camilafarani.
Teorizadas por Bower e Christensen em 19951, tecnologias disruptivas são aquelas cujos atributos diferem da avaliação histórica; inicialmente apresentam pior desempenho em dimensões importantes e acabam entrando em mercados estabelecidos por meio de melhorias rápidas (Figura 2). Dessa forma, é um termo que descreve uma inovação tecnológica, com características que causam uma ruptura nos padrões, modelos ou tecnologias já estabelecidas2,3. Apesar das preocupações com o custo e a capacidade de gerar materiais reais, a realidade é que as trajetórias atuais de desenvolvimento tecnológico (principalmente quando direcionadas comercialmente) permitirão rápidas melhorias de software/interface e de custo-efetividade4.
Muitos são os exemplos na cirurgia cardíaca, como bem exemplificaram Dr. Braile e Dr. Evora3, desde a angioplastia inventada há algumas décadas até o método de troca valvar aórtica transcutânea (TAVI e TAVR), que em poucos anos já se desenvolveu grandemente e com centenas de milhares de pessoas beneficiadas.
Figura 2. Tecnologia disruptiva. Fonte: Megapixie em English Wikipedia. New version by en:User:Megapixie, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=37670832.
A definição de medicina translacional não é clara, mas representa uma nova abordagem cujo objetivo é proporcionar ao paciente um benefício no menor tempo possível. Para isso, é feita a integração do conhecimento das ciências básicas – por meio de uma abordagem multidisciplinar altamente especializada (genética, farmacologia, fisiologia…) – com pesquisas clínicas de medicina, a fim de produzir novos medicamentos, dispositivos e opções de tratamento para os pacientes (Figura 3). Dessa forma, pode-se traduzir o termo como “da bancada à beira do leito”, ou seja, fazer todo o percurso pesquisa-teste-aprovação rapidamente, para o uso clínico da tecnologia desenvolvida5,6.
Figura 3. Cadeia translacional. P&D: pesquisa e desenvolvimento; T1-4: momentos da translação. O momento T1 indica a transição entre atividades de pesquisadores básicos para atividades de pesquisadores clínicos. O momento T2 indica a transição entre atividades do pesquisador clínico para atividades dos médicos (na definição de diretrizes e protocolos baseados em evidências) e dos agentes da indústria, interessados na produção e comercialização. T3 indica a passagem das atividades mercadológicas para aquelas da prática – interface entre a indústria e a comunidade médica que prescreve o medicamento. E, por fim, T4 marca a transição das atividades de incorporação pela comunidade médica em sua rotina de prescrição para os impactos sentidos pela população no consumo disseminado do produto. Fonte: adaptado de Khoury et al.5.
O termo medicina translacional foi cunhado na década de 1990, mas o conceito só começou a ser citado no início do ano 2000, e hoje (11/11/2019) possui 135.219 publicações só no PubMed. Não deixa de ser uma tecnologia disruptiva.
Não obstante, com o atual desenvolvimento tecnocientífico, as tecnologias se utilizarão cada vez mais da ciência translacional para se tornarem cada mais disruptivas, trazendo benefícios cada vez maiores para os pacientes.
Referências
- Bower JL, Christensen CM. Disruptive technologies: catching the wave. Harv Bus Rev. 1995;73(1):43-53.
- Dunning J. Disruptive technology will transform what we think of as robotic surgery in under ten years. Ann Cardiothorac Surg. 2019;8(2):274-8.
- Braile DM, Evora PRB. Heart surgery and disruptive technology. Braz J Cardiovasc Surg. 2019;34(5):I-III.
- Hui DS, Lee R. Scan, plan, print, practice, perform: A disruptive technology? J Thorac Cardiovasc Surg. 2017;153(1):141-142.
- Khoury MJ, Gwinn M, Yoon PW, Dowling N, Moore CA, Bradley L. The continuum of translation research in genomic medicine: how can we accelerate the appropriate integration of human genome discoveries into health care and disease prevention? Genet Med. 2007;9(10):665674.
- Cruz-López M. Medicina traslacional. Gac Med Mex. 2017;153:547-549.