Cirurgia cardiovascular em idosos extremos: os benefícios superam os riscos?

Fonte: Google.

A proporção de idosos com 80 anos ou mais, também conhecidos como idosos extremos, vem aumentando consideravelmente nos últimos anos, resultando em grandes transformações, principalmente na área da saúde, em virtude da maior prevalência de doenças crônicas.

No Brasil, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o número de idosos vai ultrapassar o de jovens em 2031, quando haverá 42,3 milhões de jovens e 43,3 milhões de idosos. Nessa data, haverá 102,3 idosos para cada 100 jovens (Figura 2).

Figura 2. Número de jovens (0-14 anos) e de idosos (60 anos ou mais) e índice de envelhecimento no Brasil: 2000-2060. Fonte: IBGE, Projeções de população (revisão 2018), http://www.ibge.gov.br/

As doenças cardiovasculares ocorrem em aproximadamente um quarto da população acima de 75 anos, aumentando, com isso, o número de potenciais candidatos à cirurgia cardíaca nessa faixa etária. Em 2015, 14,8% dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca tinham 80 anos ou mais.

Apesar da maior complexidade clínica pela maior prevalência de doenças crônicas e de comprometimento de outros órgãos, os avanços em cirurgia cardiovascular, anestesia e terapia intensiva têm contribuído para a redução de morbidade e mortalidade cirúrgicas nesta população.

Com isso, diversos estudos demonstram que a idade cronológica não é um fator de risco independente para maior mortalidade peri e pós-operatória, uma vez que esses pacientes vêm demonstrando excelente sobrevida a longo prazo após tratamento cirúrgico (Figura 3).

Figura 3. Idade cronológica versus idade fisiológica. Fonte: Google.

O maior desafio na atualidade é a criação de escores que predizem o risco cirúrgico desta população, a fim de identificar quais se beneficiariam do procedimento invasivo e em quais deles a terapia conservadora é mais indicada.

Mas uma coisa é certa: embora diversos estudos prospectivos excluam os longevos, resultados de grandes estudos retrospectivos apontam que a cirurgia cardíaca é uma opção viável para muitos idosos, com bons resultados em pacientes de risco razoável; além disso, inúmeras opções menos invasivas estão sendo desenvolvidas para pacientes com risco cirúrgico proibitivo.

Referências

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