Domingo Braile: o adeus e a contribuição do desbravador dos corações do interior (parte 2)

            O professor Domingo já foi convidado a demonstrar técnicas operatórias em diversos centros médicos do Brasil e do exterior, como Índia, Japão e China, onde recebeu o título de Professor Honorário da Universidade de Guiyang. Proferiu mais de 800 conferências, apresentou mais de 675 trabalhos, publicou acima de 450 artigos científicos, 25 capítulos de livros e recebeu mais de 26 prêmios, sendo um dos poucos integrantes exclusivos da American Association for Thoracic Surgery (AATS). Na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, foi membro fundador da Comissão de Organização e Instalação da faculdade, diretor adjunto responsável pala admissão e orientação dos alunos de 1968 a 1973, diretor dos alunos e chefe do Departamento de Cursos Especiais no biênio 1970-1971 e chefe da Sessão de Cirurgia Cardiovascular do Departamento de Cirurgia em 1971. Na mesma instituição, foi professor entre 1968 e 1977, além de membro do Conselho Superior do Hospital de Base da faculdade e chefe do serviço de cirurgia cardíaca até 1998.

 

            Em 1990 recebeu o título de doutor em medicina no Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Cardiovascular pela Escola Paulista de Medicina. Foi professor de graduação da Faculdade de Medicina de Catanduva no ensino de cirurgia cardiovascular e torácica entre 1983 a 1994, quando se afastou para chefiar o serviço de cirurgia cardíaca da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde era professor sênior da área de cirurgia cardíaca do Departamento de Cirurgia. Ainda, professor de várias disciplinas do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto de 1991 até 2012 e, na mesma instituição, de 1996 a 2012 foi diretor e pró-reitor da pós-graduação, elevando o curso para nível 5 na avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). No biênio 1993-1994 foi presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), e em 2008 foi eleito diretor do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery (BJCVS), ocupando o cargo de editor chefe da única publicação internacional da área no hemisfério sul, incluindo México e Caribe. Foi o responsável pelos sites da SBCCV e BJCVS, implantando a submissão e avaliação dos manuscritos via eletrônica.

 

            Ainda em 2008, deu-se início à pesquisa e ao desenvolvimento de prótese para implante de valva aórtica transcateter (TAVI), 6 anos depois de sua criação pelo francês Alain Cribier, denominada “Inovare” e que recebeu Prêmio Inova 2012 pela Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) em abril de 2012, denotando a vanguarda nacional. Mais recente, em dezembro de 2018, a Braile Biomédica atingiu o feito histórico da primeira cirurgia endovascular com endoprótese de valva aórtica em bloco com tubo de aorta ascendente e coronárias do mundo, sendo desenvolvida sob medida durante seis meses em conjunto com o professor Dr. Diego Gaia e realizada no Paraguai, recebendo o nome de “Endobentall” em referência à técnica proposta por Hugh Bentall e Antony De Bono em 1968 (cirurgia de Bentall-De Bono). A prótese de metal e nitinol via transapical (pelo ápice do coração) foi um sucesso e ficou entre os oito melhores trabalhos no EuroPCR de Paris, em maio de 2019, enquanto em novembro do mesmo ano recebeu o prêmio de melhor caso do ano no PCR London Valves, em Londres (Figura 1). É a materialização do espírito desbravador do professor Domingo Braile, cuja empresa possui hoje dezenas de patentes. Leia mais em https://casereports.onlinejacc.org/content/2/3/480.

 

Figura 1 – Dimensões da prótese do “Endobentall” (A) e imagem do bloco da edoprótese Inovare com o restante do bloco (B).

Fonte: Journal of the American College of Cardiology

 

            Durante sua carreira, recebeu diversos títulos e medalhas, como o título de comendador da Ordem da Benemerência em 1986 pelo Governo de Portugal e, em 2009, a comenda da Ordem do Ipiranga, concedida pelo então governador do Estado de São Paulo, José Serra, devido aos méritos pessoais e serviços ao Estado. Apaixonado pela aviação, foi presidente do Aeroclube de São José do Rio Preto por aproximadamente 10 anos e vice-presidente por 18 anos, sendo piloto de planadores e multimotores com licença para voo por instrumentos (IFR) desde 1995, que em 1980 rendeu-lhe a medalha Mérito Santos Dumont pelo Ministro de Estado do Ministério da Aeronáutica, Delio Jardim de Matos, pelos serviços à Aeronáutica Brasileira. Em dezembro de 2019 foi lançado o livro “A Céu Aberto. A História de Domingo Braile, O Consertador de Corações”, biografia escrita por Elma Mendes e pode ser adquirido no link https://domingobraile.minhalojanouol.com.br/produto/433003/a-ceu-aberto-a-historia-de-domingo-braile-o-consertador-de-coracoes (Figura 2). Ficam claras as contribuições de um homem que idealizou técnicas e disseminou a cirurgia cardíaca no país, bem como fundou uma empresa nacional no ramo de materiais para a cirurgia cardíaca. Esta singela homenagem ao cirurgião, filho, pai e avô, conferida pelos editores do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery blog é o desejo de que ocupe o céu de brigadeiro (na linguagem dos aviadores), registrar suas contribuições e prestar nossos sentimentos aos amigos e familiares. Ao professor Domingo, nossa admiração e agradecimento.

 

Figura 2 – Livro da biografia do professor Dr. Domingo Braile.

Fonte: Braile Biomédica

 

“O médico de verdade já nasce médico. A escola apenas organiza seus conhecimentos e sua conduta.”

Dr. Domingo Marcolino Braile

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