O transplante cardíaco (TC) consiste em importante terapêutica para pacientes com insuficiência cardíaca em estágio terminal (Int J Cardiol., 2020). Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2024, 352 pessoas compõem a lista de espera para potenciais receptores ativos. Esse dado demonstra a limitação do procedimento pela disponibilização de doações. Logo, a alocação dos poucos órgãos disponíveis para o grande número de pacientes em demanda é um dilema médico e ético crescente (J Cardiothorac Surg., 2017).
Diante dessa escassez, em que a oferta de enxertos não acompanha a demanda, foi criado um sistema de priorização a fim de criar critérios padronizados que visam obter uma menor mortalidade na fila de espera. Com isso, os pacientes com maior probabilidade de óbito e que entraram primeiro na fila têm prioridade para serem submetidos ao procedimento cirúrgico. Esse maior risco é verificado pelo uso de drogas vasoativas, balão intra-aórtico e dispositivos de assistência ventricular.
Apesar desse atualizado e fundamentado sistema de priorização, presente na Terceira Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco, no Brasil, das 572 pessoas que entraram na fila para receber um coração novo, 139 (24,3%) morreram antes do transplante em 2023.
Além disso, é importante destacar a mortalidade pós-transplante, tanto precoce quanto tardia, que é de aproximadamente 27% no primeiro ano após o TC e 56% após 10 anos, de acordo com dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) de 2010. Dentre as principais etiologias, podemos citar infecção, falência do enxerto e falência múltipla de órgãos.
Esse panorama aflitivo demonstra a necessidade de aumento da oferta de órgãos no território nacional a fim de evitar óbitos e promover saúde para a população brasileira. Assim, as campanhas de conscientização e o debate acerca do tema são de fundamental importância para o Brasil.
Com relação à oferta de órgãos, de acordo com a legislação do país, a doação de órgãos independe da vontade do falecido manifestada antes de ter sua vida interrompida, cabendo aos familiares consentirem no que tange a disponibilizar os órgãos para doação. Porém, é possível pode deixar expressas suas intenções antes de morrer, a fim de conscientizar os entes queridos acerca da importância da atitude perante sua partida.
Sob esse viés, o mês de setembro é considerado o mês do transplante no país e traz destaque para essa importante ferramenta de promoção de qualidade e perpetuação da vida. A sensibilização dos brasileiros para a doação durante esse período é motivo de esperança em progresso e avanço para o sistema nacional de transplante cardíaco.
Além do transplante cardíaco, vários outros tipos de transplante são propagados, visto que outros tecidos também são passíveis de doação. Assim, a partida de um ente querido pode se tornar esperança de um novo dia para inúmeras famílias pelo país.
Bibliografia
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