A oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) é uma modalidade terapêutica de suporte circulatório e respiratório extracorpóreo que utiliza uma bomba mecânica para desviar o sangue do corpo para um oxigenador de membrana, onde ocorre a troca gasosa (remoção de dióxido de carbono e adição de oxigênio), retornando-o ao paciente.1 Pode ser configurada nas modalidades venovenosa (VV), para suporte respiratório, ou venoarterial (VA), para suporte tanto cardíaco quanto respiratório. Apesar de seus benefícios em situações críticas, a ECMO apresenta riscos como hemorragia, trombose e infecções, exigindo monitoramento contínuo e uma equipe multidisciplinar qualificada.2,3
A ECMO VV consiste na drenagem do sangue do sistema venoso, geralmente através de uma cânula inserida na veia femoral, e seu retorno oxigenado ao sistema venoso por meio de uma cânula posicionada na veia jugular. Já na ECMO VA, o sangue é drenado do sistema venoso pela veia femoral e devolvido ao sistema arterial por uma cânula na artéria femoral. Em pacientes pediátricos, a ECMO VA periférica é realizada drenando o sangue do sistema venoso por uma cânula na veia jugular e devolvendo-o ao sistema arterial por uma cânula na artéria carótida. Na ECMO VA pediátrica central, o sangue é drenado do sistema venoso por uma cânula inserida cirurgicamente no átrio direito e devolvido diretamente na raiz da aorta.1

Embora compartilhe princípios com a circulação extracorpórea (CEC), existem diferenças entre ambas. A ECMO é uma terapia projetada para assistir pacientes por períodos mais prolongados em comparação à CEC, sendo frequentemente utilizada em situações emergenciais, com a vantagem de poder ser iniciada à beira-leito. Já a CEC, mais complexa, é restrita ao ambiente cirúrgico. A ECMO não possui reservatório venoso, o que a torna isovolêmica, enquanto a CEC permite ajustes de volemia.2,3
Outra diferença está no circuito e membranas da ECMO, tratados com heparina e proteínas para aumentar a biocompatibilidade, reduzindo complicações como inflamação sistêmica, hemólise e coagulação. Isso permite doses menores de anticoagulantes em comparação à CEC, tornando cada técnica mais adequada a contextos específicos.2,3
A ECMO VV é indicada principalmente para insuficiência pulmonar grave refratária a terapias convencionais, como hipoxemia severa, hipercapnia com acidose respiratória, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), falência respiratória pós-cirúrgica não cardíaca ou condições neonatais, como aspiração meconial e hipertensão pulmonar persistente. Já a ECMO VA é indicada em insuficiência cardíaca ou cardiorrespiratória, incluindo miocardite, choque cardiogênico, suporte pós-operatório de cirurgia cardíaca congênita e parada cardiorrespiratória (ECPR).1,4
Para a população pediátrica, a ECMO deve seguir critérios rigorosos baseados em diretrizes práticas, garantindo sua aplicação precoce, antes que ocorram danos irreversíveis a órgãos-alvo, como cérebro, coração e rins. De acordo com o guideline da Extracorporeal Life Support Organization (ELSO), atrasos podem comprometer gravemente o prognóstico.1,4
Cada instituição deve avaliar sua experiência, capacitação da equipe e recursos disponíveis para garantir a segurança do uso da ECMO, especialmente em cirurgias cardíacas pediátricas. Além de fornecer suporte hemodinâmico, a ECMO permite identificar e corrigir defeitos residuais, como obstruções anatômicas, promovendo melhores resultados e minimizando complicações.1,4
Apesar de sua eficácia clínica, a ECMO enfrenta desafios no Brasil, como altos custos de implementação e manutenção. Investimentos em treinamento multidisciplinar e protocolos claros são essenciais para ampliar sua acessibilidade e justificar sua inclusão em mais serviços de saúde pediátrica.1
Referências
1Extracorporeal Life Support Organization (ELSO). ELSO Guidelines for Adult and Pediatric Extracorporeal Membrane Oxygenation. 5. ed. Ann Arbor: ELSO; 2021.
2Annich GM, Lynch WR, MacLaren G, Wilson JM, Bartlett RH. ECMO: Extracorporeal Cardiopulmonary Support in Critical Care. 5. ed. Ann Arbor: ELSO; 2016.
3Combes A, Brodie D, Bartlett R, Schmidt M. Extracorporeal membrane oxygenation for respiratory failure in adults. Curr Opin Crit Care. 2018;24(1):56-61.
4Brown GM, Moynihan KM, Deatrick KB, Hoskote A, Sandhu HS, Aganga D, et al. Extracorporeal Life Support Organization (ELSO): Guidelines for Pediatric Cardiac Failure. ASAIO J. 2021;67(5):463-75. doi:10.1097/MAT.0000000000001431.