Na última semana, o Brasil comemorou os 50 anos da realização do primeiro transplante cardíaco no país. Todos conhecemos os nomes dos principais responsáveis por isso, Prof. Zerbini e Prof. Decourt, mas muitos outros médicos estiveram envolvidos nesse grande feito. Um desses médicos foi o Dr. Euclides Marques. Marques nasceu na cidade de São Paulo, em 5 de abril de 1935 e graduou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP em 1958, tendo completado a residência de cirurgia cardiovascular em 1963. Ele esteve envolvido desde o princípio no desenvolvimento das técnicas que levaram ao primeiro transplante no Brasil, em 1968, no Hospital das Clínicas. Em 2012, o Dr. Euclides publicou o livro ‘A face oculta dos transplantes”, contando a história da evolução dos transplantes cardíacos desde a década de 60.
O Dr. Euclides conta que ouvira falar da técnica de transplante cardíaco criada pelo Dr. Norman Shumway, da Universidade de Stanford, e, interessado na técnica, pediu ao Prof. Zerbini autorização para transplantar corações de cães em laboratório, isso apenas quatro anos antes da realização do primeiro transplante entre humanos no país. De fato, a técnica já estava sendo treinada há algum tempo por diferentes cirurgiões ao redor do mundo, mas, nas palavras do Dr. Euclides, “Christian Barnard passou a perna no criador dos transplantes, Norman Shumway, e realizou o primeiro transplante”. Segundo Marques, o próprio Prof. Zerbini poderia ter sido o primeiro médico a realizar um transplante cardíaco, mas por cautela do Prof. Decourt, acabamos deixando essa oportunidade passar.
Entretanto, depois do Dr. Barnard ter realizado o primeiro transplante, Marques conta que o Prof. Zerbini o chamou em uma reunião do grupo de cirurgia cardiovascular e comprou a briga para também realizar o transplante no Brasil. Foi então que o paciente João Boiadeiro se tornou o primeiro a receber um coração transplantado no país. Tudo se deu em menos de 5 meses após o primeiro transplante do mundo. Recentemente, em entrevista ao programa Documento Verdade, o Dr. Euclides contou fatos curiosos sobre o evento ocorrido há 50 anos, dentre eles o fato de que o coração a ser transplantado quase caiu no chão na ocasião.
Cinco décadas se passaram e o transplante cardíaco continua sendo uma das cirurgias mais emocionantes da Medicina. Ainda enfrentamos obstáculos, diferentes dos do passado, como a escassez de órgãos e a rejeição, mas o transplante segue como a única alternativa terapêutica definitiva para pacientes em insuficiência cardíaca em estágio avançado. Qual será, então, o futuro dos transplantes? Melhora nas terapias imunossupressoras? Órgãos artificiais? Assistência circulatória mecânica permanente? Só o tempo dirá, mas é certo que devemos investir tempo e dinheiro em pesquisa se quisermos que o Brasil seja, mais uma vez, um dos pioneiros na evolução da Medicina.