Cirurgia cardíaca no ensino fundamental: é possível?

O interesse pela cirurgia cardíaca pode surgir desde cedo na vida, mas só é possível compreender um pouco de sua complexidade quando se inicia um curso universitário de medicina. Antes disso, tudo é muito abstrato e simples. Nos Estados Unidos, essa realidade está mudando com a introdução de dois programas, descritos a seguir.

Em Chicago, existe um programa chamado “Live from the Heart”, o primeiro do tipo a realizar uma transmissão ao vivo de uma cirurgia cardíaca para escolas, no qual alunos do 9º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio assistem a procedimentos; além disso, conversam e tiram dúvidas diretamente com o cirurgião cardiovascular durante a cirurgia.

Outro programa, chamado “Pulse of Surgery”, comandado pelo Dr. Slaughter, diretor da área de transplantes de coração da Universidade de Lousville, vai além, possibilitando que alunos a partir do 7º ano participem. Desde sua criação, em 2010-2011, mais de 14.000 alunos já participaram desse programa.

Duas escolas participam a cada sessão, com no máximo 30-35 alunos cada, além de receberem um material extra antes do dia programado para a cirurgia. Também contam com monitores do próprio programa, que vão até essas escolas para coordenar atividades interativas antes e depois da videoconferência, que dura cerca de 2,5-3 horas, o tempo total da cirurgia.

As perguntas dos estudantes durante as sessões variam muito – desde a probabilidade de o paciente ter um ataque cardíaco sem o procedimento, até se a separação das costelas para chegar ao coração causa danos (muitos desconhecem a esternotomia). Tais perguntas às vezes passam despercebidas durante a cirurgia.

Dr. Slaughter comenta que há alguns pontos na cirurgia “em que você precisa se concentrar um pouco mais”, mas que praticamente todas as perguntas são respondidas imediatamente. Nesses casos, pede-se para o aluno aguardar um pouco, enquanto se manipula cuidadosamente o coração, e então os alunos realmente veem que há partes que são realmente complexas, mostrando que “o procedimento é autêntico e vivo”, como afirmou um dos alunos em entrevista. Se algo der errado, existe um botão de emergência que os cirurgiões acionam que cortam a transmissão.

“A exposição de alunos entre o 7º e o 3º ano a profissões médicas é uma parte fundamental do programa. Profissionais que não são cirurgiões, como enfermeiros e técnicos, são papéis interessantes e excitantes, que ainda fazem de você um membro ativo da equipe”, disse Dr. Slaughter.

Os pacientes são consultados a respeito da participação no programa, e sua identidade é preservada, compartilhando apenas algumas informações pessoais necessárias para um melhor entendimento do caso, como idade e sexo.

Atrair os alunos das escolas para a cirurgia cardíaca e entender melhor a carreira de médico e cirurgião são alguns dos objetivos apontados pelo programa “Live from the Heart”. Apresentar o mundo da cirurgia cardíaca é uma bela forma de apresentar a carreira de medicina, ainda mais nessa fase de escolha pela qual os estudantes passam.

Figura 1. Alunos levantam a mão para informar que eles podem ouvir o cirurgião, enquanto assistem a uma revascularização do miocárdio.
Figura 2. Alunos observam a transmissão através de um circuito fechado de televisão.

Referências

     Costello D. Science class is cool, but how about a live Q&A with a heart surgeon? Courier Journal. Disponível em: https://www.courier-journal.com/story/life/wellness/health/2018/05/17/pulse-surgery-lets-students-watch-high-stakes-operations/485035002/ [Acesso em: 06 jun. 2018].

     Kentucky Science Center. Pulse of surgery. Disponível em: https://kysciencecenter.org/education/pulse-of-surgery/ [Acesso em: 06 jun. 2018].

     Museum of Science and Industry, Chicago. Live from the Heart. Disponível em: https://www.msichicago.org/education/field-trips/learning-labs/live-from-the-heart/ [Acesso em: 06 jun. 2018].

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