Trauma cardíaco penetrante

O traumatismo cardíaco relacionado a agressões e acidentes de trânsito é uma das principais causas de morte em todo o mundo, contribuindo para o aumento significativo de óbitos na população jovem. Requer um alto índice de suspeita em traumas fechados graves, mecanismo de desaceleração e sinais perfurativos no tórax. Ferimentos cardíacos penetrantes são incomuns e implicam um prognóstico sério, sendo considerados uma importante causa de morbidade e mortalidade, mesmo quando suas vítimas conseguem atendimento hospitalar.

A maioria dessas lesões é causada por armas brancas ou por projéteis de armas de fogo, mas tais ferimentos podem ser ocasionados por corpos estranhos como fraturas de costelas ou de esterno e a gravidade do quadro clínico é refletida pelo elevado número de lesões associadas, principalmente no crânio e no fígado. O quadro clínico dos pacientes com feridas cardíacas é muito variável, desde a estabilidade hemodinâmica completa até o choque cardiogênico, dependendo bastante da localização e das consequências que elas possam causar. Sendo assim, não existe um tratamento padronizado, variando desde conduta expectante até intervenção de urgência.

Durante muito tempo, pouco se acrescentou no tratamento efetivo do trauma cardíaco; entretanto, a partir do século XIX houve uma crescente evolução em seu tratamento e uma tendência mundial em aumentar a sobrevida dos pacientes traumatizados. A existência de serviços cada vez mais treinados, tanto no atendimento pré-hospitalar quanto no hospitalar, a melhora na suspeição clínica e a boa indicação de procedimentos de emergência têm influenciado de forma bastante positiva os resultados obtidos.

Trauma cardíaco é um tema bastante amplo para abordar em apenas um texto. Essa situação é um evento à parte, que depende bastante de como tudo ocorreu e de com quem ocorreu, sendo um caso complexo que nem sempre é enfrentado da maneira como deveria. A presença de um cirurgião cardíaco/torácico não é uma realidade em todos os hospitais de trauma brasileiros, e isso me chamou bastante a atenção em meu rodízio de emergências no curso médico.

Despedida do colaborador

Cirurgia cardíaca nem sempre esteve em minha lista de possíveis especializações a seguir; cardiologia, muito menos. Ao entrar na faculdade de Medicina ainda somos bastante imaturos, tudo nos surpreende, e a vontade de aprender cada vez mais é uma característica que cresce à medida que o curso avança. Sempre gostei bastante de ver além do que a faculdade oferecia e isso nunca me fez mal, muito pelo contrário: poder ver além do que lhe é oferecido é ver em coisas simples a oportunidade de ser cada vez melhor.

Ao ser apresentado ao BJCVS Blog, no final de 2017, eu simplesmente não conseguia imaginar como aquela participação me traria crescimento. Não conseguia imaginar como, mas sabia que haveria algum tipo de benefício e foi com o pensamento de que toda situação leva a um crescimento que resolvi entrar de coração aberto neste projeto. No início tudo era bastante estranho: nunca tinha participado de nada parecido e tudo soava como novidade para mim, mas a recepção dos outros membros ocorreu de forma tão intensa e natural que o período de adaptação foi bastante curto e logo senti que formávamos uma família de futuros cirurgiões guiados por uma mãe, Camila Sáfadi, que, com seu jeito acolhedor, sempre lutou em prol do nosso crescimento.

Escrever para um blog não é algo simples, como muitos (eu achava) pensam. Cada texto é um desafio para que tudo saia da forma mais perfeita possível e acredito que o objetivo de alcançar tanto o público que atua na cirurgia cardiovascular quanto o público leigo esteja sendo alcançado com sucesso graças a essa equipe formada por indivíduos com características tão distintas, mas que juntos se completam e se entregam de forma tão intensa ao projeto. A busca por informações sobre os temas abordados nos traz uma carga de conteúdo bastante grande e isso me fez ficar cada vez mais apaixonado pela cirurgia cardíaca. A especialidade conseguiu não só entrar em minha lista, mas também chegar ao topo dela.

É com esse texto que encerro minha participação no BJCVS Blog, tendo me proporcionado aprender, ensinar e crescer. A despedida não é fácil, mas é necessária para que possamos nos entregar a novas experiências.

Leituras sugeridas

Kang N, Hsee L, Rizoli S, Alison P. Penetrating cardiac injury: overcoming the limits set by Nature. Injury. 2009;40(9):919-27. Fraga GP, TCBC-SP, Heinzl LR, Longhi BS, Silva DC, Fernandes Neto FA, Mantovani M. Cardiac trauma: autopsy findings. Rev Col Bras Cir. 2004;31(6):386-90.Karigyo CJ, Fan OG, Rodrigues RJ, Tarasiewich MJ. Ferimento cardíaco transfixante por projétil de arma de fogo: relato de caso. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2011;26(2):298-300.Volpe MA, Paredes JEM, Redigolo LC, Sanchez ISM, Lanichek F, Silveira LZD. Heart injury with projectile lodged inside the heart. Braz J Cardiovasc Surg. 2018;33(3):303-5.

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