Reflexões sobre a qualidade do atendimento durante as horas extras

Sabe-se que grande parte dos profissionais de saúde exerce sua profissão em regime de plantão, trabalhando exaustivamente, sob pressão, muitas vezes sem o descanso adequado. Diversos estudos já associaram essa rotina a um maior índice de estresse e pior qualidade do sono e de vida. Mas e quanto ao atendimento aos pacientes? O serviço prestado durante as madrugadas e os fins de semana tem qualidade inferior?

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Disponível em: https://br.pinterest.com/ingridmarcelly/greys-anatomy/ [acesso em 11 dez. 2019]

Estudos evidenciam que aproximadamente um terço dos profissionais de saúde refere não dormir o suficiente. Isso leva à redução do desempenho no trabalho, obesidade e maior prevalência de doenças crônicas, além de aumentar a chance de causar dano ao paciente devido ao cansaço1,2. Outro estudo realizado com anestesiologistas mostra que as longas jornadas de trabalho sob pressão levam à exaustão emocional e ao desequilíbrio entre vida profissional e pessoal3.

E nos serviços de cirurgia cardiovascular? Existe algum impacto da carga horária no atendimento ao paciente? Para auxiliar a elucidar essa questão, foi publicado um interessante estudo no Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery, que avaliou o impacto do trabalho nas horas extras, como fins de semana e durante as madrugadas. Foram selecionados pacientes submetidos a cirurgia após dar entrada no serviço de emergência com quadro de dissecção aguda de aorta tipo A, condição de elevada morbimortalidade. Esses pacientes foram divididos em dois grupos: os submetidos a cirurgia em horário comercial (segunda a sexta-feira durante o dia) e os atendidos à noite e aos sábados e domingos. Os resultados cirúrgicos foram analisados. Os pacientes do primeiro grupo tiveram maior necessidade de reoperação e, quanto aos desfechos pós-operatórios, como mortalidade e complicações neurológicas, não houve diferença significativa! Conclui-se que, mesmo diante de um procedimento de elevada complexidade, o serviço prestado tem a mesma qualidade e segurança, independentemente do horário4.

À esquerda, dissecção aguda de aorta tipo A. Disponível em http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5592/disseccao_da_aorta.htm [acesso em 11 dez. 2019].

Alguns estudos, entretanto, apontam que os trabalhos em horas extras contribuem para um pior desfecho, possivelmente devido à equipe reduzida e menos experiente presente no serviço4. Ao analisar o desfecho no pós-operatório de ruptura de aneurisma de aorta, a mortalidade foi maior nas cirurgias realizadas no fim de semana5.

A discussão sobre a jornada de trabalho de profissionais de saúde merece atenção. Os serviços e instituições de saúde devem promover campanhas para melhorar a qualidade de vida de seus profissionais, focando, por exemplo, no repouso adequado, na prática de atividade física e em melhores condições de trabalho. Qual a sua opinião sobre este tema? Deixe seu comentário no Facebook ou Instagram no BJCVS Blog!

Referências

1. Caruso CC. Negative impacts of shiftwork and long work hours. Rehabil Nurs. 2014;39(1):16-25.

2. Chernikova EF. The influence of shift work on worker’s health status (review). Gig Sanit. 2015;94(3):44-8.

3.Lederer W, Paal P, von Langen D, Sanwald A, Traweger C, Kinzl JF. Consolidation of working hours and work-life balance in anaesthesiologists – A cross-sectional national survey. PLoS One. 2018;13(10):e0206050.

4. Gokalp O, Yilik L, Besir Y, Iner H, Karakasyesilkaya N, Karaagac E, et al. “Overtime hours effect” on emergency surgery of acute type A aortic dissection. Braz J Cardiovasc Surg. 2019;34(6):680-686.

5. Gallerani M, Imberti D, Bossone E, Eagle KA, Manfredini R. Higher mortality in patients hospitalized for acute aortic rupture or dissection during weekends. J Vasc Surg. 2012;55(5):1247-54.

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