Jubileu de Ouro – 50 anos do Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV)

Em dezembro de 1973, acontecia, no Rio de Janeiro, o 1º Congresso Nacional de Cirurgia Cardíaca. Éramos ainda um jovem Departamento dentro da Sociedade Brasileira de Cardiologia

A década de 1960 foi marcada por uma fase heroica e de expansão da cirurgia cardiovascular no Brasil. Após o primeiro transplante brasileiro, realizado pelo Dr. Euryclides Zerbini em 1968, o início da revascularização do miocárdio por Jatene, Zerbini, Jazbik e Morais, além de tantas outras novidades comandadas por grandes nomes, a cirurgia cardíaca se consolidou no país. Foi nesse contexto que, em 1969, nasceu oficialmente o Departamento Especializado da Sociedade Brasileira de Cardiologia, sob presidência de Zerbini, o que abriu espaço para o 1º Congresso de Cirurgia Cardíaca.

Da esquerda para a direita: foto da programação científica do primeiro congresso de cirurgia cardiovascular no Brasil, em 1969.
A segunda foto mostra uma das palestras no 20º Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, em Maceió, em 1993
Foto mostrando o saudoso professor Domingos Junqueira Morais, um dos pioneiros da cirurgia cardiovascular brasileira, no congresso de 2003, em Goiânia.

Daí em diante, a cirurgia cardiovascular foi conquistando seu espaço. Em 1984, novamente no Rio de Janeiro, no 12º Congresso Nacional de Cirurgia Cardíaca, o Departamento transformou-se em Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. 

Reviver os 50 anos do Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular é transitar por uma fascinante história, que revela o início da cirurgia cardíaca no Brasil, seu crescimento e evolução. Ao longo desses 50 anos, foi possível acompanhar de perto as inovações e a ascensão da cirurgia cardiovascular no país, o conceito e o surgimento da proteção miocárdica, as novas próteses valvares, as técnicas menos invasivas, os hands-on, os dispositivos de assistência ventricular e tantas outras novidades.

Foto da esquerda: Gilberto Venossi Barbosa, palestrando no 18º Congresso da SBCCV. Foi presidente da Diretoria em 2009/2010, introdutor das práticas Hands-On no Congresso Nacional de Cirurgia Cardiovascular. Foto da direita: Hands On durante o congresso – professor Gilberto ensinando os residentes e cirurgiões.

Muitos desafios fizeram e ainda fazem parte dessa história: a dificuldade de obter recursos do governo para a cirurgia cardiovascular, o conflito entre os procedimentos terapêuticos de outras especialidades, a baixa procura pela residência, o período da pandemia de Covid-19. Esses e tantos outros obstáculos foram vencidos por pessoas comprometidas com o progresso da cirurgia cardíaca. 

É impossível falar dos 50 anos do Congresso da SBCCV sem mencionar a história admirável que marca esse Jubileu. É impossível não lembrarmos dos heróis que compõem essa história. São tantos nomes que, ao enumerá-los, corremos o risco de omissão. Alguns não estão mais entre nós; contudo, ainda temos o privilégio de encontrar muitos deles anualmente e não só os ver, mas também conversar com eles, aprender e trocar experiências. Estando presentes ou não, o legado de cada um compõe essa trajetória incrível. 

Em 2012, houve um novo marco para os congressos nacionais de cirurgia cardiovascular. Foi em Maceió, no 39º Congresso da SBCCV, que tivemos o I Congresso Acadêmico de Cirurgia Cardiovascular. Com a criação do Departamento Brasileiro das Ligas de Cirurgia Cardiovascular (DBLACCV), houve uma maior aproximação dos acadêmicos aspirantes à especialidade aos serviços e mestres de todo o país. O Congresso Acadêmico tem sido de muita inspiração, oportunidades e troca de experiências com colegas acadêmicos, residentes e cirurgiões.

Foto tirada em 2012, em Maceió, quando foi realizado o 1º Congresso Acadêmico de Cirurgia Cardiovascular. Junto com a diretoria fundadora, Dr. Davi Tenório, Dr. Gabriel Liguori e Dra. Leila Barros (da esquerda para direita), estão dois grandes apoiadores do Departamento Brasileiro de Cirurgia Cardiovascular, o professor Rui Almeida e o professor Fábio Jatene (da direita para esquerda).

É isto que o Congresso da SBCCV nos proporciona: o passado, o presente e o futuro juntos, em uma mesma sala, aprendendo e conversando sobre aquilo pelo que somos apaixonados, a cirurgia cardiovascular. Para nós, jovens na cirurgia cardíaca, é inspirador e gratificante ver os “grandes nomes” sentados ao nosso lado, nos instruindo e nos mostrando os percalços e as vitórias desse trajeto. 

O que nos aguarda em junho de 2024 é ainda maior. Será um momento épico, em que teremos a oportunidade de reviver mais momentos dessa história, encontrar nossos ídolos da cirurgia cardíaca e ter a consciência de que hoje fazemos parte da jornada que a especialidade tem trilhado em nosso país.

Foto da esquerda: Uma das palestras do 23º Congresso Brasileiro de Cirurgia Cardiovascular, em 1996. Foto da direita: Parte da diretoria da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular em Pernambuco, no mesmo congresso.

Finalizo este texto com as palavras do mestre Iseu Affonso Costa, primeiro discípulo do professor Zerbini, durante o 25º Congresso Nacional de Cirurgia Cardiovascular, em 1998, em São Paulo: “E, assestando o retroespectroscópio para focalizar a vida da SBCCV, eu escrutino nosso passado e revejo a figura de amigos que caminharam conosco e que contribuíram para transformar a cirurgia cardíaca no Brasil naquilo que hoje podemos chamar de Cirurgia Cardíaca Brasileira”. 

Doutor Zerbini, e muitos outros pioneiros da cirurgia cardiovascular brasileira, que juntos, fizeram história e deixaram um legado fascinante para todos nós.

Nos vemos em São Paulo!

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