O potencial das terapias celulares no remodelamento cardíaco após o infarto agudo do miocárdio

O infarto agudo do miocárdio é a causa mais comum de morte global, sendo responsável por 32% dos óbitos no mundo em 2013 (1). Do ponto de vista da fisiopatologia, o infarto ocorre em decorrência de fissura ou ruptura de placa aterosclerótica, desencadeando um processo de formação de trombo, com consequente obstrução da luz do vaso.

Em pacientes que sobrevivem ao infarto, uma série de alterações bioquímicas e moleculares ocorrem logo após a oclusão coronariana, gerando uma intensa resposta inflamatória mediada por citocinas, além de modificações da arquitetura ventricular que podem levar ao remodelamento cardíaco.

O remodelamento cardíaco, na maioria dos casos, leva a um quadro de dilatação ventricular que gera insuficiência Cardíaca (IC), caracterizada pela incapacidade de o coração ejetar sangue para a aorta em virtude do processo de dilatação. No Brasil, 21% de todas as hospitalizações ocorrem em decorrência de alguma complicação da IC, com altas taxas de morbidade e mortalidade nos períodos pré, intra e pós alta hospitalar (2).

Apesar da importância desse quadro, as atuais opções terapêuticas têm como objetivo tratar apenas as consequências do infarto, não sendo capazes de restaurar a contratilidade das células cardíacas. Desta forma, a evolução para um quadro de IC quase sempre se torna inevitável, e o transplante cardíaco se torna a última opção terapêutica efetiva. Entretanto, existem consideráveis limitações em relação a esse procedimento no Brasil e no mundo.

Infelizmente, ainda há poucos centros transplantadores especializados, um baixo número de doadores e muitos indivíduos que necessitam do transplante; além disso, em geral esses pacientes possuem outras comorbidades que muitas vezes contraindicam o procedimento, principalmente em razão da terapia imunossupressora instituída após o transplante (3).

Por esse motivo, novas opções terapêuticas, como as terapias celulares, surgem como alternativa promissora para o tratamento da IC, principalmente por seu potencial de restauração da função cardíaca, por meio da atenuação da resposta inflamatória após o evento agudo e pela capacidade de formação de novos vasos, células indiferenciadas e até mesmo novas células cardíacas (4). Outros mecanismos vêm sendo propostos em estudos mais recentes, passando a ser também um grande alvo de pesquisa em grandes centros.

Imagem demonstrando as opções para implante de células-tronco diretamente ao miocárdio.

Ainda não há grandes estudos clínicos que demonstrem de forma consistente os benefícios das terapias celulares, justamente pela complexidade de manejo dessas terapias. Um grande estudo ainda em andamento é o BAMI Trial, que avalia o efeito da reinfusão intracoronariana de células mononucleares derivadas da medula óssea sobre a mortalidade por todas as causas em infarto agudo do miocárdio. Esperamos ansiosamente por esses resultados.

REFERÊNCIAS:

1. Brasil. Ministério da Saúde. Taxa de mortalidade específica por doenças do aparelho circulatório. Vol. 8, http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/LivroIDB/2edrev/c08.pdf. p. 6–7.

2. Albuquerque DC De, David J, Neto DS, Bacal F, Eduardo L, Rohde P, et al. I Brazilian Registry of Heart Failure – Clinical Aspects , Care Quality and Hospitalization Outcomes. Arq Bras Cardiol. 2015;104(6):433–42.

3. Kim, I. C., Youn, J. C., & Kobashigawa, J. A. (2018). The Past, Present and Future of Heart Transplantation. Korean circulation journal, 48(7), 565-590.

4. Jakus AE, Laronda MM, Rashedi AS, Robinson CM, Lee C, Jordan SW, et al. “Tissue Papers” from Organ-Specific Decellularized Extracellular Matrices. Adv Funct Mater. 2017;27(34):1700992.

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