No dia 12 de junho, celebra-se o Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita no Brasil. Estima-se que aproximadamente 8 a cada 1000 nascidos vivos apresente alguma cardiopatia. Torna-se então imperativo aumentar a visibilidade dessas patologias, adotando-se a mesma data do dia dos namorados para falar ainda mais sobre o coração! Essa campanha visa esclarecer as doenças congênitas do coração e abordar a importância do diagnóstico precoce, além da criação de programas de saúde específicos para pacientes cardiopatas.
Grande parte das cardiopatias congênitas possui tratamento, sendo feito acompanhamento clínico e abordagem cirúrgica para proporcionar qualidade de vida para os pacientes. Para melhorar o prognóstico, o diagnóstico precoce é essencial, bem como a educação das famílias no decorrer do tratamento. O BJCVS Blog, no intuito de contribuir com a campanha, entrevistou o Dr. Vinícius Nina, cirurgião cardiovascular e professor da Universidade Federal do Maranhão. Confira:
BJCVS Blog: Dr. Nina, na sua experiência, quais avanços o Brasil já apresentou na área das cardiopatias congênitas?
Dr. Nina: O teste do coraçãozinho, sem dúvidas, é um avanço para o diagnóstico precoce de cardiopatias críticas. A lei que regulamenta o teste passou a vigorar em 2014, fazendo com que a oximetria de pulso seja realizada de forma universal no SUS, compondo a triagem neonatal. Por outro lado, tenho observado que há um interesse crescente pela Cardiologia Pediátrica. Há mais jovens fazendo essa especialidade. No nosso estado por exemplo, em 10 anos, o número de profissionais atuando nessa especialidade aumentou consideravelmente.
BJCVS Blog: quais são os pontos críticos do tratamento de pacientes cardiopatas atualmente?
Dr. Nina: O acesso desses pacientes continua muito difícil. Apesar da obrigatoriedade do teste, quando diagnosticada, a probabilidade da criança conseguir uma vaga em um serviço de referência, de forma rápida, para que ela possa ter um tratamento adequado, é quase lotérica. Crianças com cardiopatias mais simples continuam esperando por ainda mais tempo. O acesso é ainda mais difícil saindo do eixo Sul-Sudeste, onde existem “vazios-assistenciais” muito grandes. Do ponto de vista do diagnóstico, há uma melhora significativa, entretanto, existe uma carência de serviços que ofereçam resolutividade. Os pacientes eletivos, usando nosso estado como exemplo novamente, estão ficando anos na fila, o que gera um agravamento muito grande, por duas razões: os pacientes ficam desassistidos no período em que ficam aguardando, em parte porque sendo oriundos de municípios longínquos, não têm acesso à continuação de seu seguimento clínico pois só temos cardiologia pediátrica na capital em um universo de 217 municípios, e este acesso não é fácil! A segunda razão é que esta demora pode agravar até mesmo cardiopatias consideradas mais simples pelo risco de complicações como infecções respiratórias, desnutrição e insuficiência cardíaca. Deste modo, após a correção cirúrgica, o pós-operatório se torna desfavorável, prolongando o tempo de permanência no hospital o que também impacta no acesso de outras crianças. Estabelecendo-se, infelizmente, um ciclo vicioso!
BJCVS Blog: qual é a sua expectativa para o futuro?
Dr. Nina: A Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular fez uma mudança que eu considero importante, que foi o novo formato da formação do cirurgião cardíaco, que passou a ser de 5 anos, o que permite ao jovem cirurgião vivenciar mais a cirurgia cardíaca pediátrica e ter a oportunidade de se dedicar a essa especialidade no quinto ano, se for da sua vontade. Isso favorece e desperta o interesse de muita gente. Outro fator importante é a sociedade civil. Ações como a Pequenos Corações são louváveis. São pessoas que estão enfrentando as mesmas dificuldades, os mesmos obstáculos, que passam a ter um papel fundamental, tanto para esclarecer outras famílias bem como apontar caminhos para que elas possam ter um percurso menos doloroso. É uma voz muito importante perante a sociedade e as autoridades, como os poderes legislativo, executivo e judiciário. Portanto, a participação dessas iniciativas é imprescindível no sentido de serem formadores de opinião, enquanto usuários do sistema e potenciais clientes da rede de saúde. Por outro lado, deve haver, também, uma política de estado para capacitar novos centros, principalmente em regiões menos assistidas porque já existem estudos que evidenciam que esses vazios assistenciais, principalmente na região Nordeste, atingem déficits superiores a 70%. Portanto, por ser o Brasil um país de proporções continentais, é imprescindível que sejam criadas novas frentes de trabalho pelos governos estaduais e federais para que seja assegurada assistência de qualidade para as crianças cardiopatas.
A cirurgia cardiovascular e a cardiologia pediátrica brasileira já apresentaram muitos avanços no tratamento das cardiopatias congênitas ao longo dos anos, fruto do esforço conjunto dos profissionais da saúde, autoridades públicas e sociedade civil. A perspectiva ainda é de mais inovações técnicas e ampliação da rede de cuidados para acolher da melhor forma esses pacientes, de forma cada vez mais humana, proporcionando qualidade de vida para todas as famílias que necessitam. Para mais informações, visite o site da AACC Pequenos Corações e junte-se a essa campanha!
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