A impressão de materiais em forma tridimensional é uma tecnologia que está em constante evolução. A primeira máquina de impressão 3D surgiu em 1984, quando o engenheiro norte-americano Chuck-Hull desenvolveu um sistema de incidência de luz que transforma materiais fotopolímeros do estado líquido para o sólido, traçando assim a forma do objeto a ser construído. Desde então, a técnica de Hull vem sendo aperfeiçoada e hoje é possível transformar imagens digitais em objetos físicos.
Na medicina, a utilidade dos modelos tridimensionais já é vista de forma prática em diversos países, e o BJCVS Blog publicou sobre o tema recentemente. Mas, no Brasil, é possível utilizar essa tecnologia para assistência médica? Qual é o custo médio de uma impressão 3D? O que esperar do futuro? Buscando sanar essas e outras dúvidas, o blog entrevistou o Dr. Luiz Antonio Rivetti, cirurgião cardiovascular e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Conhecido por orientar o estudo pioneiro no país sobre o uso da impressão 3D em cirurgia cardíaca, o cirurgião contou um pouco de sua experiência ao Blog. Confira a entrevista abaixo:
BJCVS Blog: Dr. Rivetti, como surgiu o interesse em impressão 3D?
Dr. Rivetti: Sempre fui atento aos avanços tecnológicos (por pura curiosidade), e sempre achei que esses avanços poderiam trazer benefícios para a medicina. Aqui na Santa Casa, por exemplo, é comum operarmos aneurismas de ventrículo esquerdo com circulação extracorpórea e sem pinçamento de aorta. A técnica é fascinante, mas sempre achei que precisávamos de algo a mais para quantificar a cavidade ventricular e ter melhor noção sobre a porcentagem de ventrículo que restaria. Assim, percebi que a impressão 3D poderia trazer uma ideia mais precisa para o cirurgião sobre o procedimento, e resolvemos então testar os biomodelos impressos tridimensionalmente.
BJCVS Blog: Qual a contribuição desses modelos impressos em forma tridimensional para a cirurgia cardíaca e para a área médica?
Dr. Rivetti: São inúmeras contribuições: ensino de anatomia, treinamento de habilidades e técnicas cirúrgicas, planejamento de procedimentos e até mesmo elucidação de certas doenças para os pacientes. Em alguns centros do mundo, por exemplo, já é possível imprimir uma válvula mitral, colocá-la em um simulador e no dia seguinte operar um paciente com o mesmo defeito do simulador. Outros hospitais já são capazes de treinar procedimentos de miectomia em corações com cardiomiopatia hipertrófica impressos em 3D. Ou seja, o cirurgião já treinou e se familiarizou antes de operar o paciente. Isso certamente melhorará a performance e os resultados cirúrgicos. Com os biomodelos a segurança do cirurgião certamente será maior. É diferente de somente ver uma imagem.
BJCVS Blog: Como o Brasil está situado em relação ao cenário mundial?
Dr. Rivetti: Infelizmente, ainda estamos caminhando a passos lentos. Nossa principal dificuldade é financeira. O custo de uma impressora 3D, por exemplo, é em média 3 milhões de dólares. Não é fácil conseguir essa verba. Se soubermos aplicar o dinheiro de forma adequada, certamente evoluiremos mais rápido. De qualquer forma, temos uma vantagem: a cirurgia cardíaca brasileira é excelente, e não perdemos em nada para países europeus, americanos ou asiáticos. Como comentei anteriormente, aqui mesmo na Santa Casa já imprimimos ventrículos para melhorar nossas abordagens em certas doenças.
BJCVS Blog: Quais as perspectivas para o futuro?
Dr. Rivetti: A impressão 3D veio para ficar. Sem dúvidas, essa tecnologia será muito útil, principalmente nas cardiopatias congênitas. A técnica de impressão tridimensional diminuirá mortalidade, melhorará resultados e aumentará o leque de abordagens para a cirurgia cardíaca e outras áreas da medicina. Aqui na Santa Casa, por exemplo, os serviços de Hepatologia e Nefrologia já estão com projetos para utilizar essa tecnologia para ter melhor visão sobre os tumores com conexão com a veia cava, por exemplo. Será uma revolução em todas as áreas.
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http://www.materialise.com/en/cases/saving-a-newborn-support-of-3d-printing
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