A vontade de ajudar o próximo, a busca de novos horizontes e novas oportunidades de aprendizado são sentimentos preponderantes na medicina. Na cirurgia cardíaca não é diferente. Entretanto, devido a complexidade dos procedimentos intrínsecos à especialidade, o número de oportunidades é obviamente mais escasso quando comparada a outras especialidades. Contudo, hoje diversas instituições filantrópicas promovem com sucesso cirurgias cardíacas em países subdesenvolvidos.
Dentre as Instituições que rotineiramente realizam estas missões destacam-se a Novick Cardiac Alliance, a International Children Heart Foundation, Chain of Hope, a CardioStart International, Heart to Heart, Heartcare International, e outras mais. Periodicamente a CTSNet lista as Instituições que estão necessitando de voluntários (incluindo cirurgiões cardíacos, anestesistas, enfermeiros e perfusionistas). As vagas são preencheenchidas rapidamente, então é necessário planejar com antecedência.
Apesar de diversas Instituições realizarem missões e promoverem cirurgias cardíacas, são poucas asque aceitam receber residentes devido a supervisão de um preceptor qualificado para tal. Uma das organizações dispostas a receber residente é a Internacional Children Heart Foundation. Um excelente relato sobre a experiência de um residente foi fornecido pelo Dr. Wallen a CTSNet, com informações sobre o número de cirurgias realizadas, a experiência clínica, seu impacto e seus desafios. Dentre esses se destacaram os custos para tal e a burocracia para liberação de sua instituição de origem.
Dentre as instituições que aceitam estudantes de medicina a International Children Heart Foundation possui um programa próprio ( o qual o autor desse artigo participou durante a graduação), assim como a Novick Cardiac Alliance também tem um histórico de aceitar estudantes voluntários em suas missões. Quando possível e sobre a correta supervisão, estudantes podem contribuir no acompanhamento clínico e cirúrgico do paciente.
Apesar dos claros benefícios gerados por essas organizações, algumas considerações devem ser feitas. Certas questões são globais e dividem similaridades com qualquer organização filantrópica de assistência à saúde como: a situação econômica do país, a política hospitalar e nacional, os conflitos de personalidade e a contínua falta de recursos ou mesmoas disputas interpessoais dentro da instituição podem levar ao fracasso do progresso. No específico contexto da cirurgia cardíaca, certos pitfalls são relevantes: intervenções curtas, a abordagem de possíveis complicações cirúrgicas, o planejamento cirúrgico de cirurgias corretivas após procedimentos paliativos e sua realização.
Desta forma, conexões colaborativas duradouras com a equipe local são necessárias e essenciais para bons resultados e para que as intervenções promovidas pelas instituições sustentem no longo prazo uma memória institucional e, dessa forma, fundamentem a criação de serviços locais independentes e capazes de fornecer a assistência necessária à comunidade local. Estes são pontos relevantes a serem avaliados ao selecionar a organização a qual se deseja fazer parte. O melhor preditor para isso é avaliação do sucesso de missões anteriores destas Instituições.
O contato com abordagens diferentes, soluções diversas, menos dispendiosas e um networking multicultural trazem, através do voluntariado, perspectivas ampliadas para o exercício da cirurgia cardíaca e são indubitavelmente oportunidades a serem consideradas em diversos momentos e versões.
Alguns aspectos essenciais a serem avaliados ao escolher a instituição a qual se deseja voluntariar são: a conexão médica e até filosófica com o trabalho da organização (importante se aprofundar sobre estas), o domínio técnico da função que você irá exercer na missão (você é capaz de prover esse mesmo cuidado na sua cidade de origem?), o domínio da língua local para qual você irá ou da equipe médica com quem você trabalhará (tradutores estarão disponíveis?) e como sua participação será financiada. Muitas destas instituições realizam intervenções no Brasil o que facilita o voluntariado.
Em contato com nosso blog o cirurgião cardíaco pediátrico e CEO da International Children Heart Foundation Dr. Rodrigo Soto falou um pouco sobre a experiência de se voluntariar:
“Depois da minha primeira viagem com a International Heart Foundation, há 14 anos, eu me senti completamente apaixonado pela missão. De repente, todo o meu treinamento de mais de uma década fez sentido. Não há sentimento melhor do que ajudar uma criança a recuperar sua vida. Com certeza, trabalhar em medicina humanitária me fez um cirurgião melhor, me fez uma pessoa melhor e me fez a pessoa que sou agora. Eu só queria poder ter feito isso antes, durante meus anos de treinamento. A experiência de trabalhar em uma viagem de missão cirúrgica é algo que eu recomendaria fortemente a cada trainee, não obstante se estão considerando trabalhar na medicina humanitária ou se preferem seguir uma via mais tradicional.”
Ciente de tudo isso e com os exemplos em mente, aqui estão alguns links para dar um passo à frente e se voluntariar:
Referências:
1. Surgical Volunteer Opportunities. CTSNet. Disponível em: http://www.ctsnet.org/surgical-volunteer-opportunities
2. Wallen, T. Humanitarian Cardiac Surgery: A Trainee’s Perspective. Disponível em: http://www.ctsnet.org/article/humanitarian-cardiac-surgery-trainee’s-perspective
3. Novik WM et al. Paediatric cardiac assistance in developing and transitional countries: the impact of a fourteen year effort. Cardiol Young. 2008 Jun;18(3):316-23.
3. Pitfalls in volunteering abroad. United for sight. Disponível em: http://www.uniteforsight.org/pitfalls-in-development/pitfalls-in-volunteering-abroad
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