OS CIRURGIÕES CARDIOVASCULARES FAZEM NOSSA HISTÓRIA – DR GILBERTO BARBOSA

No segundo capítulo da série, vamos falar um pouco da história do Dr Gilberto Barbosa, que após seus 51 anos de contribuição para a especialidade, mantém trabalho importante na área de formação do cirurgião, especialmente, no desenvolvimento de simuladores das novas tecnologias.
Dr Gilberto Barbosa iniciou sua carreira dentro da Cirurgia Cardiovascular em 1965, no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, quando assistiu a uma cirurgia em um cardiopata realizada pelo Dr Cid Nogueira, sendo ainda residente de Cirurgia Geral à época. O próprio Dr Gilberto cita os nomes como Prof. Dr. Cid Nogueira, Prof. Dr. Adib Domingos Jatene, Dr. Luiz Carlos Bento Souza, Dr. Paulo Paredes Paulista, Dr. Décio Korman e  Prof. Dr. Tomas Salerno como sendo aqueles que mais influenciaram na sua formação na especialidade. Nessa época, ele relembra quais foram as suas primeiras lembranças como cirurgião cardíaco principal. De menor complexidade, foi um implante de marca-passo numa paciente de 78 anos, em 1967, no Hospital Cristo Redentor em Porto Alegre. Logo a seguir, em 1969, foi a correção de uma estenose mitral em uma paciente de 39 anos com auxilio de circulação extracorpórea, no bloco cirúrgico do Pavilhão Cristo Redentor, da Santa Casa de Porto Alegre.
Fazendo um paralelo do seu período de formação com o atual, o Dr Gilberto fala sobre o surgimento de novos métodos diagnósticos, que auxiliam o cirurgião no detalhamento de estruturas vasculares, mostrando, na combinação de técnicas, anatomia e função desses órgãos, possibilitando melhor planejamento cirúrgico. Além disso, ele aponta os avanços tecnológicos nos equipamentos que suportam as funções vitais do organismo, como nas máquinas de circulação extra- corpórea, a presença de novos oxigenadores e bombas centrífugas. Além disso, surgiu o conceito de proteção miocárdica, novos equipamentos e modalidades de anestesia e de monitoramento das funções vitais tornaram o ato operatório e o período do pós-operatório mais seguro, a evolução dos conceitos de reconstrução das funções das valvas do coração, com o surgimento de novas próteses valvares, os dispositivos implantáveis para o tratamento das arritmias se tornaram menores e mais eficientes, possibilitando aos pacientes enviar esses dados ao seu médico através da telemetria.
Em 1969, Dr Gilberto foi membro fundador da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, na época, ainda como departamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Nos seus primeiros 20 anos, a sociedade se centrou no ensino, produção de conhecimento e divulgação de revistas médicas, dentre elas, a Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, fundada em 1986. O congresso anual da sociedade, hoje realizados 46 em diversas regiões do país, sempre foi o maior evento da sociedade, oferecendo grande oportunidade de atualização pelo contato com experts nacionais e estrangeiros e pela demonstração de pesquisas e inovações e, tendo se incorporado nos últimos anos, outros profissionais de essencial existência para a prática de qualidade para a especialidade.
Dr Gilberto  se considera um associativista apaixonado. Ocupou ao longo da vida 18 anos em cargos divididos em cargos do conselho, comissões e da diretoria executiva. Ele relembra momentos de angústia vividos entre os anos 80 e 90, quando se juntou a um grupo de cirurgiões, dentre eles, Domingo Braile, José Wanderley Neto, Paulo R.S. Broffman, com os quais viajava periodicamente a Brasília em busca de recursos para a Cirurgia Cardíaca.Em 2008, foi eleito presidente para a gestão 2009-2010, num cenário descrito por ele mesmo, como desafiador para a especialidade: honorários aviltantes para os cirurgiões, invasão de outras especialidades para procedimentos terapêuticos e queda de 80% na procura pela especialidade pelos médicos jovens ingressantes em residências médicas. Na ocasião, Dr Gilberto precisou se afastar de seu trabalho como professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da chefia do serviço no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da sua atividade como cirurgião, a fim de se dedicar integralmente ao cargo. Na sua gestão, batalhou por um aumento histórico nos honorários, criou os  centros de treinamento e ensino da SBCCV (hoje 45 centros de treinamento), aprovou o novo formato de residência na Comissão Nacional de Residência Médica em Cirurgia Cardiovascular de 5 anos, posteriormente homologado em 2017, fortaleceu relações com EACTS E STS, incentivou a criação de cooperativas entre cirurgiões e criou o “Grupo das Mulheres Cirurgiãs”, com o objetivo de incentivar o treinamento de jovens acadêmicas na especialidade. Além disso, ele introduziu a modalidade do Hands On no congresso brasileiro, tendo já realizado treinamento em cerca de 3 mil cirurgiões.
Se diz muito orgulhoso de deixar esses dois legados à SBCCV (os centros de treinamento e o Hands On): por esses dois potentes instrumentos de ensino/aprendizagem aos cirurgiões brasileiros, com reflexos diretos na sua qualificação profissional, habilitando-os a competir no mercado de trabalho e, principalmente, em oferecer aos pacientes tratamentos mais eficazes e humanizados.
Foi eleito em 2011, no 38° Congresso da Sociedade Brasileira, como patrono da Associação Brasileira de Residentes de Cirurgia Cardiovascular, tendo sido criado em seu nome o prêmio Troféu Professor Gilberto Venossi Barbosa, que é entregue desde aquele ano para preceptores que se destacam no ensino da especialidade.
Segundo Dr Gilberto, a Cirurgia Cardiovascular vem passando por intensas transformações. No presente e, mais ainda, no futuro, somente aqueles com competência nas técnicas convencionais e domínio das técnicas por cateter e imagem terão sucesso. O treinamento exaustivo em simuladores deve ser admitido como essencial na aquisição dessas habilidades e competências. As novas gerações de cirurgiões deverão encarar e abraçar as mudanças como uma forma de crescer, mantendo o foco nas habilidades e competências, aceitando o trabalho multidisciplinar como benéfico ao paciente a quem devem tratar com respeito e humanidade.     
A cirurgia cardíaca brasileira tem um reconhecimento internacional de que somos competentes e habilidosos, tendo contribuído com técnicas cirúrgicas inovadoras para a solução de doenças cardiovasculares graves e que hoje são praticadas por várias equipes no mundo.
Aos novos cirurgiões, Dr Gilberto acrescenta: “Eu os aconselho a dedicarem-se inteiramente a adquirir conhecimentos, habilidades e competências durante o período de formação e durante a vida profissional. Eles precisam entender que as dificuldades e os obstáculos no caminho não são só desafios, mas oportunidade e estímulo para ultrapassá-los, buscando e valendo-se dos exemplos, orientação e conselhos dos mestres.O paciente deve ser o foco principal, tratado com responsabilidade e humanidade, sendo ouvido com e atenção  para ser auxiliando na elucidação dos seus temores e das suas expectativas em relação a doença, ao tratamento e ao seu futuro.  Devem-se, ainda, manterem-se íntegros, dentro dos princípios da ética e da moral na vida pessoal e profissional, sendo exemplo e estímulo para os colegas e candidatos futuros a cursar a especialidade. As oportunidades de atuação profissional virão para os competentes em saber fazer, aderentes à competição saudável e respeitosos com os valores que regem a vida dos homens de bem.”
TEXTO ELABORADO A PARTIR DE ENTREVISTA DO DR GILBERTO BARBOSA CONCEDIDA À EQUIPE DO BJCVS.

Gilberto ministrando aula em curso de HandsOn.
Dr Gilberto recebendo prêmio no 39 Congresso da SBCCV


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